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| filme 75 | O SHOW DE TRUMAN - O SHOW DA VIDA

E se a sua vida fosse uma grande mentira?

Truman Burbank é um vendedor de seguros que leva uma vida simples. Bondoso e metódico vive na pequena cidade de Seahaven. Tem uma namorada chamada Meryl, um melhor amigo, um trabalho e todo dia ele “faz tudo sempre igual”. A única coisa que Truman não sabe é que vive dentro de um show de televisão. Todos que convivem com ele estão ali trabalhando. São atores contratados que encenam a realidade da sua vida. O dono do destino de Truman não é Deus, ele tem um Senhor próprio, que atende pelo nome de Christof. Durante toda a vida de Truma, Christof tratou de colocar no rapaz todo o tipo de medo que se relaciona com a vontade de viver novas aventuras. Assim, conseguiu manipular a permanência de Truman dentro dos estúdios. O rapaz vive num local cercado pelo mar, por isso, quando era criança, ele “perdeu” seu pai durante um acidente marítimo, fato que fez surgir um medo óbvio dentro dele.

Acontece que, mesmo com todo o controle, Truman apresenta um compportamento inesperado: se apaixona perdidamente por uma figurante do programa, Sylvia (após uma troca de olhares, nunca mais deixa de pensar nela). Rapidamente, percebendo um possível desvio do roteiro, Christof trata de retirar a figurante da vida do seu "rebento". Ocorre que Truman, juntando pedaços de rostos de mulheres que encontra em revistas, vai tentando montar o rosto da pessoa pela qual se apaixonou. Um dia, as câmeras flagram a montagem do rosto e Sylvia vê que a paixão que sente por Truman é correspondida. A sensação de não pertencimento ao local continua e, depois que fatos estranhos começam a acontecer, Truman tenta fugir, iniciando a busca pela verdade sobre sua vida. A cena definitiva, que marca sua luta para fugir da realidade em que vive preso, é fantástica!


O filme, dirigido pelo australiano Peter Weir, foi um grande sucesso de público e crítica. Lançou um feroz debate sobre a influência dos Reality Shows nas vidas dos participantes e, principalmente, da audiência. Comumente a platéia aparece durante a projeção do filme, torcendo para que Truman saia da bolha, ou permença nela. É um embate entre aqueles que o veem como uma pessoa que merece ser livre para fazer as próprias escolhas e aqueles que acham que ele não passa de um objeto criado para o entretenimento de todos. A relação que Christof estabelece com ele é a mesma que a de um inventor com o seu objeto inventado. Não é uma relação de pai e filho, porque a grande luta de Christof é impedir que Truman siga seus impulsos. Em 1999, The Truman Show (no título original), recebeu três indicações para o Oscar: melhor direitor, melhor ator coadjuvante (Ed Harris, que faz o Christof e está realmente ótimo) e melhor roteiro original para Andrew Niccol (também roterista de O Terminal e O Senhor das Armas).

Quem está arrasador no filme é Jim Carrey. Foi com O Show de Truman que ele deixou de ser visto como careteiro-mor do cinema americano. Anos depois, ele faria também Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. O fato de Hollywood ter ignorado Jim na indicação dos melhores atores mostra que ainda é grande o preconceito contra comediantes que se aventuram em filmes dramáticos.

-Aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes.
-Nada foi real?
-Você era real. Por isso gostam de assisti-lo.Lá fora, a verdade é igual...a do mundo que criei para você. As mesmas mentiras. As mesmas decepções.

O desafio entre aceitar a realidade mais cômoda ou partir para buscar aquilo que pode ser melhor permeia a história do filme. Todos nós temos Christof’s em nossos caminhos. As vezes nós mesmos construimos um Mundo que nos deixa em posições de maior conforto. A tal zona de conforto, apesar de fazer com que a vida pareça perder um pouco da pressa, nos deixa em estado letárgico, como que esperando o próximo ato, que invariavelmente não será disparado por nós. Buscar a novidade mexe com a nossa vida e com a vida daqueles que nos cercam, não sabemos o fim dessa busca, mas é caminhando por ela que a gente vive de verdade.
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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER