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| filme 47 | O CÉU DE OUTUBRO


Qual o tamanho do seu sonho?

“Atenção ao ruído que separa eternamente o passado do futuro. ‘Sputnik 4 de outubro, 1957’”

O início do Céu de Outubro não pode ser mais paradoxal. Enquanto um programa de rádio relata o lançamento exitoso do satélite soviético Sputnik vemos a movimentação em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Longe do enorme desenvolvimento tecnológico conseguido pelos russos temos uma cidade que vive ao redor de uma empresa de mineração. A cidade se chama Coalwood, o  ano da narrativa é o mesmo do lançamento do satélite russo, 1957.  É nesse meio que o jovem Homer Hickam (Jake Gyllenhaal) sonha em colocar foguetes de miniatura em órbita.

- Você viu o Sputnik passando na outra noite? Foi lindo. Fiquei lá observando enquanto cruzava o céu. E em qualquer lugar do mundo, alguém poderia ver exatamente o que eu vi. Até fez parecer que Coalwood fazia parte do mundo lá fora.
- Homer, acredite, há muitos lugares piores que Coalwood neste mundo. E isto é apenas um pedaço de aço voador.

O jovem não está sozinho. Conta com a ajuda de mais três amigos e uma professora. E só. Mais ninguém na sua família, tampouco na cidade, se permite comprar o sonho do rapaz. A fama inicial dos quatro é a pior possível: malucos, desocupados etc. Mas, eles não desistem. Até que um incidente – um incêndio em uma floresta – faz com que eles tenham que mudar os planos. Junto com isso, um dilema caseiro entra na vida de Homer: seu pai não aprova o seu comportamento e o garoto se sente impelido a provar para o pai que pode ser o filho que ele tanto deseja. 

O Céu de Outubro é um dos meu filmes prediletos. Revejo ele sempre que preciso de algo para melhorar meu astral. O elenco é afinadíssimo com a história e o olhar esperançoso de Jake é um dos trunfos da produção. 

- Vê se acorda, Homer! A minha chance de ganhar nessa feira de ciências é igual à sua de jogar futebol e ganhar uma bolsa. Eu sei que serei minerador. Soube disso minha vida toda. O que há de tão ruim em minerar carvão?
- Nada, Roy Lee. Minerar carvão é legal. Por isso seu padrasto é o maior bêbado do Oeste da Virgínia. Por favor, caras! Vocês sabem que a mina mata. (...) Se querem ser mineradores de carvão vão logo minerar carvão.

O caminho tortuoso que nos afasta daquilo que mais desejamos é a prova que todos devemos fazer para merecermos o sonho. Somos todos competidores (contra nós mesmos) numa corrida de obstáculos, que só existe para fazer o resultado final ser mais prazeroso. Lutar contra milhares de opiniões contrárias, lutar contra aquilo que aparenta ser o seu destino, lutar contra os familiares (opiniões tão importantes para todos nós). Quase sempre temos que enfrentar situações como essas: quero isso, mas o mundo diz que eu deveria querer aquilo. Os "fogueteiros" venceram a desconfiança inicial de todos da cidade e se tornaram inspiração para muita gente.

- Ouça, filho. Nem sei como explicar o orgulho que você me deu estas semanas. Você fez um excelente trabalho naquela mina. Continue assim e, um dia, tomará o meu lugar. Todos dizem isso. Acho que eu quero dizer que se esses foguetes são tão importantes para você então tudo bem contanto que tenha cuidado. Há passatempos muito piores. Mas perder dia de trabalho, isso é exagero. Você devia saber disso. Vamos acertar tudo com o Jake. Avisaremos que você trabalhará no turno da noite.
- Não. A mina de carvão é a sua vida. Não a minha. Eu nunca mais entrarei na mina. Eu quero viajar no espaço.

A história de Homer Hickam é real. O que faz o filme ser muito mais familiar para a gente, assim como todos os dilemas que ele encerra. Os filmes com histórias reais possuem um poder enorme de nos fazer acreditar que é possível qualquer coisa que a gente queira, quando queremos com muita vontade. A cada desvio do seu sonho, Homer voltava com mais força ainda. O mais interessante é que ele nem era o mais inteligente de todos, mas era o cara que tinha mais vontade. É um senhor recado para todos nós.



Trilha sonora do filme. Clique no "play" e ouça.


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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER