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| filme 94 | O PODEROSO CHEFÃO II


Um torto sonho americano…


Dois anos depois de construir uma obra-prima do cinema contemporâneo, Francis Ford Coppola continua a saga épica da família Corleone em O Poderoso Chefão II. Se a grande maioria das pessoas torce o nariz para sequências, esta aqui prova que uma continuação pode ser melhor que a produção original. Com basicamente o mesmo elenco do primeiro filme, o número II da trilogia ganha nomes de peso como Robert de Niro (que faz o jovem Don Corleone) e Lee Strasberg (que aqui pode ser visto como o grande inimigo de Michael Corleone, mas que nas “horas vagas” foi o fundador e mentor do método de interpretação que fez a cabeça dos grandes nomes de Hollywood no Actor`s Studio).


O filme é narrado em dois tempos, ambos com início, meio e fim, em um trabalho de montagem perfeito. Duas das épocas mais ricas na história dos Estados Unidos são retratadas com esmero técnico impressionante: o início do século XX, com o crescimento da cidade de Nova York, impulsionado pelo imenso número de imigrantes italianos que chegavam sem parar e a década de 50, cheia de riqueza e charme, o ápice do sonho americano. Não é de se espantar que o filme tenha levado o Oscar de Direção de Arte em 1975. A trilha sonora fantástica de Nino Rota e Carmine Coppola foi premiada com a estatueta dourada. O Roteiro Adaptado do livro de Mario Puzo, escrito pelo próprio e por Coppola também, recebeu o “careca de ouro” mais famoso do Mundo. Obviamente não foram os únicos prêmios. Coppola faturou o Oscar de Melhor Diretor, Robert de Niro (fantástico) abocanhou o prêmio de melhor ator coadjuvante (categoria em que concorreu com o seu antigo mentor Lee Strasberg) e o filme recebeu o Oscar principal da noite (a primeira continuação a ganhar um Oscar, na história do cinema).


No início do século XX, o menino Vito Corleone vem para a América após toda sua família ser assassinada na Sicilia. Já em Nova York (mais precisamente em Little Italy) ele tenta sustentar a família com atividades legais mas, meio que sem querer, a ilegalidade bate à sua porta e ele se rende ao mundo do crime, quando mata o mafioso local Black Hand Fanucci. Corta para a década de 50, em Lago Tahoe, numa belíssima mansão. Michael Corleone (Al Pacino, incrível! Perfeito!) agora é o gestor do legado deixado por Don Vito Corleone. Cada vez mais distante da sua mulher, o jovem idealista se tornou um homem ambicioso que justifica tudo que faz em nome da preservação da família. Tentando expandir os negócios, planeja entrar no mundo do lazer e entretenimento, mas para isso precisa tirar o poder das mãos do mafioso Hyman Roth (Lee Strasberg). Viaja para Miami e Cuba (presencia o início da Revolução de Fidel) e lá percebe que Hyman é um inimigo poderoso. Descobre o envolvimento do irmão e volta cada vez mais paranóico.


Pacino é um capítulo único neste filme. O olhar sem emoção mostra um personagem que vai deixando, cada vez mais, a humanidade de lado. Se o pai tinha um código de honra, uma passionalidade que exalava mais um justiceiro do que um bandido, o Michael Corleone de Pacino é um frio e calculista homem de negócios, que passa por cima até mesmo do próprio sangue para conseguir o que quer. Cenas antológicas como as conversas de Michael com Hyman Roth (ainda em Miami), o irmão (em Cuba e depois em Lago Tahoe) e Kay (já em Nova York) são os grandes momentos do filme.


Ponto interessante é a relação com Kay. A esposa parece que acorda de um transe e começa a entender a dimensão dos tais negócios da família Corleone. Se torna uma mulher sem brilho, apagada. Michael cada vez mais distante, apesar de claramente ainda amar a esposa. 

Acontece que caçar os inimigos (sejam eles quais forem) se torna a atividade única do chefe da família. Caçar e vingar. As palavras que movem toda a história desta sequência são resumidas na figura de Michael Corleone. É neste filme que ele se torna o homem que mata todo amor que está a sua volta. É neste filme que a sina dos Cornelone (a vingança a qualquer custo) morde com força o antes idealista Michael. Vemos o apagar da humanidade e o nascer da monstruosidade. Os dois lados que existem em todos nós. Michael escolheu o dele, o preço será cobrado mais adiante.

ð     Veja a análise do crítico Pablo Villaça, do portal Cinema em Cena, sobre o trabalho dos figurinistas e diretores de arte em O Poderoso Chefão I e II.



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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER