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| filme 101 | O LADO BOM DA VIDA
Loucura é não buscar a felicidade!
É muito comum, depois de anos e anos vendo filmes, começarmos a conhecer a obra de determinados diretores. Fazendo isso conseguimos imaginar como será uma produção muito antes de vê-la de fato. É assim que acontece com o diretor, roteirista e produtor David O. Russel. Não que sua obra seja vasta, mas é mercante. Dois dos seus filmes anteriores fizeram muito sucesso e são, de fato, muito bons: Três Reis (1999) e O Vencedor (2010). Em ambos, está presente a principal característica do diretor: a exímia direção de atores, a ponto de chegarmos a imaginar que nunca outros atores poderiam interpretar aqueles papéis. E o mais interessante disso tudo? Três Reis é um drama de guerra, O Lutador um drama e O Lado Bom da Vida uma deliciosa comédia com algum drama e um clima de romance.
Se em Três Reis, David tinha vários atores para formar um pequeno time em cena (George Clooney, Mark Wahlberg, Ice Cube e Spike Jonze) e em O Lutador um embate entre dois grandes atores (Mark Wahlberg e Christian Bale), em O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, título original) ele faz Bradley Cooper (Patrick "Pat Jr." Solitano) e Jeniffer Lawrence (Tiffany Maxwell) criarem uma interação que é a alma e também o motor do filme. Todos os outros personagens orbitam ao redor deles, tanto que devemos ter duas ou três cenas em que um ou outro (ou ambos) não aparecem. Também é alentador ver o Robert de Niro de volta (no papel de pai do personagem central), e sem fazer tantas caretas, tendo como par Jacki Weaver (uma ótima atriz australiana, que fez quase toda a carreira no teatro). Ainda no elenco, a queridíssima Júlia Stiles (como irmã da personagem principal) e o sumido Chris Tucker (que faz um amigo de Pat).
A trama simples não deve enganar o cinéfilo. Até porque a força motriz que impulsiona o roteiro são os diálogos cheios de ironia, dureza, sinceridade e graça. Pat descobre, após passar por um evento traumático, que é bipolar (o tema seduziu David porque ele tem um filho com problemas mentais). Internado numa instituição psiquiátrica, consegue, por intermédio da adorável mãe, continuar seu tratamento em casa. Logo a loucura do dia-a-dia afeta Pat, que tenta se manter fiel a um objetivo: voltar para a esposa. Acontece que ele não previa, mas uma adorável menina literalmente cruza seu caminho. Tiffany é uma jovem viúva, que assim como Pat, possui conflitos internos e teme enfrentá-los. Um acordo entre eles faz a amizade crescer, e o clima de paixão entre os dois, que acaba se tornando inevitável, é desenvolvido com muitos risos (como numa engraçadíssima cena em que todos os personagens contracenam, dentro de uma sala, falando ao mesmo tempo) e um final apoteótico ("à la" Pequena Miss Sunshine).
A bela direção de atores rendeu, ao filme, as quatro principais indicações para as categorias de interpretação do Oscar 2013 (fato que não o ocorria desde Reds, em 1981): Jeniffer Lawrence é super favorita para o prêmio dourado de melhor atriz, ainda concorrem Bradley Cooper (melhor ator), Robert de Niro (melhor ator coadjuvante) e Jacki Weaver (melhor atriz coadjuvante). A produção também foi indicada aos prêmios de melhor diretor, roteiro adaptado (uma adaptação do livro Silver Linings Playbook, de Matthew Quick), edição e filme.
Jeniffer Lawrence é um capitulo à parte. Ninguém duvidava que a entrada da jovem atriz de 22 anos para o seleto time das divas do cinema aconteceria mais cedo ou mais tarde. O difícil era prever como: se com um sucesso de bilheteria ou um sucesso de crítica. Com esse trabalho ela conseguiu os dois. A voz rouca, a cara de superioridade, o olhar amoroso e apaixonado, que ela direciona para Pat, formam uma Tiffany ao mesmo tempo raivosa e amorosa. No ponto certo.
Mais do que uma simples comédia romântica (com pitadas de drama, afinal estamos falando de um doente psiquiátrico), o filme é um Frank Capra dos dias de hoje. Atual porque o personagem central está longe de ser o mocinho dos idos tempos de Hollywood, ainda que mereça, de todas as formas, encontrar a sua fórmula da felicidade. Certamente por isso, O Lado Bom da Vida talvez seja saber que é o caminho que traz a felicidade e que esta nunca deve ser um fim em si mesma.
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