| filme 1 | O SEGREDO DOS SEUS OLHOS

Existe segredo dentro da gente? 

- Que final desagradavel o dessa novela, hein?

- De merda! Vê, eu não quero deixar passar tudo de novo. Como pode ser? Como é possível que não fiz nada? Há 25 anos que me pergunto. E há 25 anos respondo o mesmo: “deixa, foi outra vida. Já passou. Não pergunte, não pense.” Não foi outra vida, foi esta! É esta. Agora que eu entendi tudo. Como se faz para viver uma vida vazia? Como se faz para viver uma vida cheia de “nada”? Como se faz?

Lá pela metade do filme O Segredo dos Seus Olhos somos confrontados com essa constatação feita pelo personagem principal, Benjamín Espósito, interpretado pelo fantástico Ricardo Darin. O nosso mocinho da vez é um servidor público da justiça argentina, recém aposentado. Na sua busca para encontrar algo que preencha sua vida, no passado e no presente, decide escrever um romance tendo como pano de fundo o caso criminal mais famoso que enfrentou enquanto trabalhava. Benjamín nutriu uma paixão por anos e anos pela sua ex-chefe, Irene Menéndez Hastings (interpretada por Soledad Villamil). Uma paixão que ele nunca soube como declarar. Ao revisitar o passado, Benjamín preenche a lacuna que faltava e consegue ficar em paz para viver o presente. E é aí que temos esse diálogo.

O Segredo dos Seus Olhos é fantástico. Ganhou o Oscar de melhor produção estrangeira de 2009.

- Você se dá conta, Benjamín? O sujeito pode mudar de tudo: de cara, de casa, de família, de namorada, religião, de Deus...Mas, tem uma coisa que o sujeito não pode mudar, Benjamín. Não se pode trocar de Paixão. 

E lá se vai o filme para um plano sequência maravilhoso que pega o Estádio conhecido como Cilindro de Avellaneda (do Racing Club) do alto até encontrar o protagonista e seu coadjuvante nas arquibancadas. A cena, na hora, me fez recordar uma grande paixão: o Fluminense. Que hoje me “presenteou” com uma derrota em casa para a equipe do Bahia (que não vencia um jogo da primeira divisão desde 2003!). Porém, fico com a recordação maior que tenho do "Cilindro": o golaço de cabeça do monstro Thiago Silva. Um empate em 2 a 2 com o Boca Juniores e a classificação para a final da Taça Libertadores de 2008 praticamente encaminhada. Bela recordação, não? Minha maior paixão!

Outra grande paixão é a Argentina. Por isso a escolha desse filme. Homenagem mais justa, impossível. Me sinto metade hermana. É complicado quando metade do seu coração vive longe de você. Toda uma vida longe. Tios, primos e amigos vivendo coisas que não farão parte do seu dia. Para manter a lembrança viva, só deixando a paixão acesa. Não troco meu segundo país por nada. Não se troca uma paixão, não é mesmo Benjamín?

- Valeu a pena?

- Não pense mais nisso! Não pense mais! O que importa? (...) Não fique mais imaginando, pensando no porquê! No que aconteceu, no que não aconteceu, você vai ter mil passados e nenhum futuro! 

Em sua busca, Benjamín é tentado a não continuar. Deixar o passado pra trás. Não buscar mais respostas para coisas que aconteceram há anos e anos. Ele não ouve o conselho. Acho que ele fez o certo. O que somos nós senão as escolhas que fazemos? Se algo está errado com nossa vida, devemos, sim, revisitar o passado. Buscar o exato momento onde tudo se rompeu, ou onde foi feito o arranhão.

Escrever, lembrar apenas dentro da nossa cabeça, conversar, fazer terapia – são formas de reconstruir algo que se quebrou. No reencontro com nossas paixões muitas vezes conseguimos fazer cicatrizar algo que nos feriu no passado. Reviver paixões, reacendê-las, é uma forma de nos recolocarmos no trilho. Benjamín conseguiu. E eu? E você?