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| filme 23 | AMOR E OUTRAS DROGAS

Realmente a gente muda por amor?!

- Por que quer ser representante farmacêutico?
- Por que será? Porque é o único trabalho nos EUA que paga $100.000 ao ano.
- Essas pessoas entram em nossos consultórios com mochilas e amostras como  vendedores ambulantes.
- São vendedores ambulantes que vendem produtos que rendem $37 bilhões ao ano.
- Eles transformaram as decisões médicas em impulsos de compras.
- Não estou te roubando pacientes. Pacientes verão os anúncios na TV e pedirão aos médicos para receitarem aquelas marcas e você é quem as fornecerá.

Amor e Outras Drogas começa de um jeito, com uma proposta, e termina de outro. Começa um filme diferente, com uma história de amor igualmente diferente mas termina estilo comédia romântica. Não que não seja bom. É. Mas podia ser melhor.

Estamos nos anos 90, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um representante da indústria de medicamentos e vive o boom do Viagra. Por um momento, achamos que a produção vai se aprofundar no tema, vai mostrar mais da relação promíscua entre representantes e médicos. Na hora do filme tomar essa decisão, surge  Maggie Murdock (Anne Hathaway).

- Quer proximidade, certo? Quer transar.
- Agora?
- Certo, devo agir como se não soubesse se isso é certo, então me diz que não existe certo ou errado. É só momento. E então te digo que não posso. Quer dizer, finjo que não posso. O que não é preciso porque não está mesmo ouvindo. Porque isso não tem nada a ver com conexão para você e nem mesmo com sexo, são só uma ou duas horas pra aliviar o sofrimento de ser você mesmo. O que está bom pra mim porque eu quero exatamente a mesma coisa.

Maggie é descolada, independente, não quer compromisso, curte sexo casual e tudo mais que um cara como Jamie pode querer. Além disso, ela tem Mal de Parkinson. Um pequeno detalhe que faz toda a diferença. O rapaz se encanta com a moça e ela começa a achar que a companhia dele é uma caridade. É aí que o filme vira uma comédia romântica dessas que nós, meninas, adoramos!

Na verdade, a fragilidade de Maggie induz Jamie a mudar conceitos e prioridades. O jeito dela mexe com ele e o faz rever até mesmo os seus valores. Nesse ponto chegamos a uma situação complexa no filme. É realmente possível ser totalmente mudado por amor? Até acho que é possível, mas se eu fosse alguém incrédula não conseguiria me convencer. As situações do casal não são aprofundadas, sequer ficamos sabendo das consequências dos atos de ambos. Um filme que começa de um jeito e termina de outro, invariavelmente, vai pecar por falta de aprofundamento. Independente disso, a química entre Anne e Jake é sensacional. Segundo filme em que formam um casal (o primeiro, O Segredo de Brokeback Mountain) e é muito bacana ver os dois. Sensação enorme de que estão curtindo muito. E, com isso, a gente também curte!

“Eu me preocupava bastante com o queria ser quando crescesse. Quanto ganharia ou se me tornaria alguém importante. Às vezes as coisas que você mais quer, não acontecem. E às vezes, as coisas que jamais esperaria acontecem. Não sei...Você encontra milhares de pessoas e nenhuma delas te tocam. E então encontra uma pessoa e sua vida muda. Para sempre.”

Mas, então, é possível mesmo mudar da água para o vinho quando o amor chega? Existe um sentimento superior capaz de fazer isso com a gente? Eu mudei por momentos. Acho que a gente muda mais quando estamos na iminência de perder o amor já encontrado. Acontece que a mudança nunca é tão profunda. Tão sensacional. Ou então eu nunca amei assim. Não acredito nesta opção, até porque eu sei que já amei e amo (muito). E não mudei nada (mas que pena, não?). Ainda assim, não acredito nessa coisa de mudar por alguém. Dar esse poder e essa responsabilidade para uma outra pessoa é até covardia. Sou do tempo em que o amor nos fazia melhores mantendo nosso jeito, e não de um jeito diferente.
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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER