banner

| filme 96 | MOONRISE KINGDOM




Começa a projeção e a câmera do diretor Wes Anderson passeia por uma casa e apresenta a sua família esquisita da vez. Explico. Assim como em seu filme de maior sucesso até aqui, Os Excêntricos Tenenbaums, Wes, agora, nos coloca literalmente dentro da casa dos Bishop. Em ágeis movimentos de câmera vemos três crianças escutando um toca-discos que fará parte de outras cenas, uma mãe meio perdida, um pai completamente largado e a personagem feminina principal da história: a menina Susy. Com seu binóculo inseparável ela observa a tudo e todos, inclusive a mãe, que têm o hábito de escapulidas com a autoridade policial do local. Aliás, é pelo objeto que Susy trava um dos diálogos mais legais do filme. Perguntada por que não se afastava dele, ela responde – “Me ajuda a ver mais de perto, mesmo não estando tão distantes. Imagino que é meu poder mágico”.

Saímos da casa dos Bishop e chegamos ao acampamento Ivanhoé. Lá o chefe dos escoteiros, um hilário Edward Norton, descobre que um dos seus jovens desertou. Sam Shakusky é odiado pelos seus colegas de grupo. Tanto que quase ninguém se empolga em começar as buscas pelo rapaz.




Logo depois, descobrimos que a ordem da apresentação dos personagens tem um significado. E que o sumiço de Sam significa que Susy também sumiu. Isto porque durante uma apresentação, na Igreja da pequena ilha onde todos vivem, ambos se conhecem e começam a fazer uma interminável troca de cartas.

Cartas, sim. Nada de e-mails, afinal estamos na década de 60, do século passado.

Começam as buscas aos jovens perdidos por vontade própria. Logo, nem tão perdidos assim, e, para eles, começa uma jornada de descobertas. Desde as mais banais até aquelas mais profundas, como aceitar o outro como ele é - algo que realmente parece fácil, mas é a origem de intermináveis brigas humanas. Lá pelas tantas, os jovens conversam sobre eles mesmos. Fazem perguntas estranhas e outras nem tanto. A pequena Susy exclama: “Eu gostaria de ser órfã, como você, Sam. Odeio a minha mãe!”. No que o garoto retruca de maneira incisiva: “Susy, eu te amo, mas você não sabe o que está falando”.  Em poucas palavras uma declaração infeliz, uma lição de moral, a revelação de um sentimento triste de um ser humano com tanto futuro ainda e, principalmente, o entendimento de que mesmo aqueles que amamos e que indiscutivelmente nos amam, podem fazer declarações absurdas que nos magoam muito. Mas o menino Sam é jovem, e muito maduro! E ainda assim uma criança. O que talvez gere uma reflexão proposital que o diretor tenha tido a vontade de instigar em nós: se uma criança pode ser madura e ainda assim ter a ingenuidade de uma criança, porque adultos não podem ser também um pouco crianças?

A doçura e impetuosidade do pequeno Sam é o motor do filme. Com seu domínio perfeito da arte de “se virar” na natureza ele provê Susy de todas as necessidades e ainda transforma uma bucólica praia da ilha em um universo paralelo, onde protagonizam cenas ótimas. Um mundo só deles, que dura pouco, mas que muda suas vidas e a de todos que estão em volta para sempre.

A fábula de amor foi indicada ao Globo de Ouro 2013 na categoria melhor filme (comédia/musical). 


Trilha sonora do filme na Amazon. Em vinil e cd!

Compartilhe:
Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER