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| filme 106 | AS AVENTURAS DE PI
Para entender porque as Aventuras
de Pi se tornou o filme que é precisamos olhar para o seu diretor. Fosse outro
comandante do projeto e teríamos um filme recheado de suspense e cenas de ação
diante da luta por espaço entre um menino e um tigre. Mas, Ang Lee é o mestre
em transformar visualmente os gêneros que toca. Além disso, sabe como poucos
emprestar muito sentimento e momentos de introspecção entre os personagens que
vemos em tela. Foi assim em trabalhos inesquecíveis como Banquete de Casamento
e Comer, Beber e Viver, da época em que ainda era uma promessa, ou dos
premiados Razão e Sensibilidade, O Tigre e o Dragão (das inesquecíveis cenas de
luta que mais se assemelhavam a uma dança) e O Segredo de Brokeback Mountain,
filme pelo qual recebeu seu primeiro Oscar como diretor.
Em todas essas obras uma
característica chama atenção: a arte de misturar cores e fazer delas também um
instrumento dramático, um adendo que nos ajuda a entender o estado de espírito
dos seus personagens. Em O Segredo de Brokeback Mountain, por exemplo, a vida
dos amigos e depois amantes Jack e Ennis é dividida em cores. Em suas casas,
com suas esposas, levando a vida pacata e dentro dos padrões sociais, nos
deparamos com um festival de cores pasteis, foscas, tom único, sem variações.
Quando estão juntos, seja na montanha onde descobrem o amor homossexual, seja
em outros momentos da película, o que predomina é um festival de cores vivas.
Variações de verde, azul, tudo muito luminoso. É a cor mostrando o estado de
espírito dos personagens. Em As Aventuras de Pi, filme pelo qual Ang faturou,
merecidamente, seu segundo Oscar, vemos um festival de cores, exatamente no
momento em que o menino, naufragado no mar, começa a descobrir um amontoado de
sentimentos e sensações: desesperança, alegria, coragem, tristeza, felicidade, todos eles
pontuados com cores que enchem a tela de cinema (ou da sua casa) de brilho.
A sequência de fotos foi obtida através de capturas em HD. "De cair o queixo".
A história, um roteiro adaptado
do livro de mesmo nome de Yan Martel (que por sua vez se inspirou na obra Max e
os Felinos de Moacyr Scliar), conta a saga de um menino e sua família, que após
venderem um zoológico na Índia, partem rumo ao Canadá. Um imprevisto faz
ocorrer um naufrágio e de repente o menino Piscine Molitor "Pi" Patel
se vê num bote salva-vidas sendo o único tripulante ser humano. Os outros são
animais, entre eles o tigre Richard Parker. A partir daí acompanhamos a luta de
Pi para sobreviver em alto mar, ao mesmo tempo que tenta conviver com um animal
considerado uma das forças mais brutas da natureza.
Existem momentos muito bons, como
o cardume de peixes voadores ou a baleia que faz performance perto do bote.
Outros tensos, como aquele em que Pi tenta marcar a sua parte no território. Ainda
existe uma bossa muito bacana nos créditos iniciais: eles repetem os movimentos
dos animais que estão na tela no momento. Fato é que nas mãos de qualquer outro
cineasta teríamos uma filme de ação, recheado de suspense, com um tigre bandido
e um menino mocinho. No filme de Ang Lee as forças se mesclam, fazem parceria.
A natureza e o homem são fortes e são fracos. Só alguém muito sensível
conseguiria igualar, em uma cena, homem e tigre, ou, até mesmo, fazer o
primeiro mais forte que o segundo. Ang Lee é um craque. Um cineasta que já tem,
faz tempo, uma assinatura. Sensível, cuidadoso e humano. Pi merecia sua
história contada com tanta cor, assim como Richard Parker. Quisera eu ter uma
vida como um filme de Ang Lee. Sorte do Pi.
As Aventuras de Pi foi indicado para onze Oscars. Ganhou quatro: melhor diretor, melhor fotografia, melhor efeitos visuais e melhor trilha sonora.
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