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| filme 107 | KON-TIKI


Navegar para descobrir. Como no passado.



O cinema tem a função de nos entreter e informar. E quando junta essas duas características produz surpresas extremamente agradáveis, como é o caso de Kon-Tiki, um filme norueguês, de 2012, que foi o pioneiro em indicações para o país, tanto no Globo de Ouro quanto no Oscar. Dirigido por Joachim Rønning e Espen Sandberg, desconhecidos fora do país natal, o filme narra a trajetória de seis homens, comandados pelo explorador, zoólogo e geógrafo norueguês Thor Heyerdahl, que, seguindo a teoria do cientista, partem do porto de Callao no Peru, rumo à Polinésia, para provar que aquele país foi colonizado por uma civilização vinda do continente americano e não por ascendentes de qualquer povo asiático (colonização feita graças ao avançado estágio de técnicas marítimas dos povos que viviam nas Américas na época pré-colombina, às correntes do Oceano Pacífico e ao vento).




Herman Watzinger, Bengt Danielsson, Erik Hesselberg, Knut Haugland e Torstein Raaby são os “marinheiros” (alguns de primeira viagem) embarcam na crença de Thor de que sua teoria está certa. Constroem uma jangada nos moldes que os colonizadores teriam construído. Para isso, usam pau-de-balsa (madeira mais leve que a cortiça), um mastro com uma vela de pano, com a face de Kon-Toki, o ancestral inca que teria cruzado o pacífico 1500 anos antes. Apesar de levarem comida, um rádio, alguns canivetes e outros artigos para uso pessoal, o meio de transporte foi elaborado seguindo à risca o que poderia ter sido feito no passado.

O filme foi rodado em várias locações, como Maldivas, Bulgária, Malta, Nova York, Oslo, Suécia e Tailândia. As imagens na Ilha são deslumbrantes e as recriações de época perfeitas, uma vez que a história se passa entre 1946 e 1947. Como foi visto em outro filme indicado ao Oscar de melhor produção estrangeiro, esse ano, o dinamarquês A Royal Affair, temos outro caso de produção esmerada, com recursos técnico incríveis, não deixando nada a desejar aos melhores filmes de Hollywood. Apesar de girar praticamente em torno dos seis homens em alto mar, o filme começa com uma passagem da infância de Thor, envolvendo a água (esta que seria sua grande estrada quando mais velho). Depois vemos o início de sua vida como cientista, exatamente numa ilha da Polinésia, junto com sua esposa. Lá ele começou a desenvolver sua teoria, que pouco tempo depois seria testada na expedição. São, porém, as angustias na imensidão do mar azul e a crença em uma construção científica os dois motes dramáticos que impulsionam o filme. Aliás, o tema crença na ciência é prato cheio para filmes mensagem (tal qual em Contato, com Jodie Foster). Alguns crentes, outros nem tanto. Fato é que os seis homens partem nessa jornada arrepiante para provar que um deles poderia ter razão.


O mais encantador é saber que Kon-Tiki é, na verdade, uma história real. Todos os personagens existiram e contaram a história através de filmagens que depois foram transformadas no documentário Kon-Tiki, de 1950, vencedor do Oscar naquele ano e que está disponibilizado em sua versão integral no youtube. Várias imagens reapresentadas podem ser comparadas com suas versões reais, presentes no documentário. Thor também escreveu um livro sobre a aventura, alcançou mais de 20 milhões de cópias vendidas e construiu um museu na Noruega.

Veja o Documentário de 1950 em versão integral.


As sagas de homens comuns e busca de redenção para as crenças de uma vida de estudos são ótimas premissas para textos de elevada carga dramática e mensagens de superação. O legal do filme é que nada disso é jogado de forma solta. As decisões tem sempre dois lados e o próprio Thor experimentou isso. A linha dramática do filme começa e termina da mesma forma, um longo plano aberto que culmina com o rosto do protagonista, deixando da ideia de que sua vida foi uma longa caminhada em busca do conhecimento. Kon-Tiki é um filme sobre um homem que acreditou em si mesmo, mesmo que todos falassem o contrário. As estradas do Pacífico responderam todas as dúvidas que os outros poderiam ter.

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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER