banner

| filme 112 | OS SUSPEITOS

A fé como instrumento de justiça.




Um apito dá início ao andamento da trama deste suspense estrelado pelo par de galãs Hugh Jackaman e Jake Gyllenhaal. Antes do apito, porém, somos apresentados às duas famílias em torno da qual irá girar a trama. Keller Dover, esposas e dois filhos e a família da menina Joy, amiga da filha de Dover. Somos convidados para a ceia de ação de graças das famílias. Vemos as crianças correndo pela casa, os adolescentes conversando, as mães cozinhando e os pais arrumando a mesa. Até que lá pelas tantas as pequenas Anna e Joy pedem aos pais para irem até a casa da primeira procurar o apito que seu pai havia lhe dado. É o suficiente para que as meninas desapareçam e comece o suspense.

Uma lista de suspeitos vai surgindo na nossa frente, mas todos nós ficamos tão perdidos quanto o detetive Loki, um solitário e metódico policial. As pistas sobre o criminoso responsável pelo desaparecimento insistem em não chegar e o policial precisa conter a ira dos familiares, principalmente do pai de Anna. Os acontecimentos que desencadeiam a resolução do caso são dados em sequência, e uma das grandes sacadas do filme é fazer com que os protagonistas Loki e Dover descubram qual o próximo passo a dar juntamente conosco.

Tecnicamente estamos falando de um filme que sabe explorar como poucos a tríade trilha sonora-enquadramentos-fotografia. O clima sombrio de sótãos, apartamentos abandonados, casas antigas e jardins escuros é ornado por uma fotografia que privilegia o desfocado, as imagens por trás das janelas, tudo isso completado pelas tomadas fechadas que se abrem aos poucos ou vice versa. O uso da trilha é um caso a parte, com as cenas sendo ritmadas pelo crescimento das notas musicais. É tão bem feito que não reparamos que é a trilha, parece mais um dos personagens nos avisando que “aí vem coisa”.


Mas existe outro componente que na verdade explica as motivações do filme. Protagonista e antagonista formam dois lados de uma mesma moeda. São humanos, mas cada um representa a fé de pontos distintos. Enquanto o policial Loki é o defensor da justiça dos homens, Dover é aquele que personifica o perigoso discurso da justiça divina. O homem que acredita poder definir se Deus irá ou não aprovar determinado comportamento que for praticar, e ele pratica. Pratica muita coisa reprovável em nome da justiça de Deus. A fé ou a falta dela, no final, irá determinar o destino dos personagens.


Hugh e Jake construíram seus personagens à perfeição. O primeiro criou um pai com um instinto quase animalesco de sobrevivência que não poupa esforços e não mede consequências para recuperar a filha perdida. O segundo faz um policial obsessivo com tiques nervosos nos olhos, cabelo arrumado, camisa fechada até o pescoço, todos os componentes necessários para adjetivar o seu personagem. Com um quê dos filmes de suspense de David Fincher Os Suspeitos entra para a galeria com louvor como um dos melhores filmes do gênero em 2013. E o apito da fé liga a narrativa do começo ao fim do filme. Um sopro de esperança para responder aos caminhos da fé escolhidos pelos protagonistas.
Compartilhe:
Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER