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| filme 3 | 127 HORAS

Já pensou para onde seus atos podem te levar?

- Não perca a lucidez, não perca a lucidez.

Aron Ralston (James Franco, perfeito, indicado ao Oscar de melhor ator em 2010) diz essas palavras, 24 horas após ficar preso (pelo braço) em uma fenda no cânion Bluejohn, em Utah. A história (real) é basicamente essa. O sujeito é um cara completamente alheio, descuidado e que não preza pelas suas relações pessoais. Conectado, leva uma câmera filmadora para registrar cada passo da aventura, porém esquece o canivete. Transmitir imagens, perfeito! Levar um objeto necessário, para que? Vivemos ou não numa época em que muitos dos que nos cercam (quando não somos nós mesmos) são assim? Pessoas que se preocupam com a forma, e não com o conteúdo.

Durante as horas subsequentes ao primeiro dia preso, Aron começa a ter delírios, nesse ponto somos apresentados aos atos que o levaram até aquele momento. Trata-se de um homem, preso num lugar completamente deserto e que não avisou a ninguém sobre seu passeio. Brilhante.

- Então? Como faço para entrar? Qual é a combinação?
- Se eu te disser, vou ter que te matar.
- Mas você já me matou.
(...)
- Ei, mãe. Desculpe não ter atendido o telefone na outra noite. Se atendesse poderia dizer para onde estava indo e, provavelmente, não estaria aqui agora.
- Com certeza! Mas é como eu sempre digo: é o resultado do nosso egoísmo supremo!

Aron não cuidou daqueles que o amavam. Provavelmente, achava que todos estariam ali, sempre disponíveis. A hora que quisesse. Como quisesse. Tratou de não alimentar a simpatia e o querer daqueles que o cercavam. Sozinho, preso pelo braço. Nada mais sugestivo.
Talvez repleto de conhecidos. Milhares de followers. Outras milhares de curtidas. Mas, efetivamente, literalmente, sozinho!

- Estive pensando. Tudo está entrelaçado. Sou eu. Eu escolhi isso. Eu escolhi este. Essa pedra estava esperando por mim a vida toda (EU ODEIO ESSA PEDRA!). A vida inteira. Desde que era um meteorito, bilhões de anos atrás. Me movi em sua direção a vida inteira. A partir do momento que nasci, cada vez que respirei, cada ato me conduziu a isto.

O processo que envolveu Aron e a Pedra foi libertador. A pedra foi o estopim do confronto entre aquilo que ele efetivamente era, contra aquilo que ele havia se tornado, através dos anos e anos, desde o seu nascimento. 
Ao invés de ser obstáculo, óbice, a Pedra de Aron foi sua salvação. Se viu morto. Narrou sua morte, enquanto estava preso e a câmera tinha bateria. Deu adeus aos amigos e parentes.
Mas, quando perdeu a lucidez e começou a delirar ele se encontrou com o Aron que o levou até aquela situação. Foi para matar esse Aron que ele se encheu de brios e começou a lutar pela própria vida.
Todos nós temos Pedras de Aron em nosso caminho. A ideia é que tornemos essas pedras trampolins para momentos melhores. Ao vociferar que odiava a Pedra, Aron queria dizer que odiava aquele estúpido e otário sujeito que se jogou em sua própria cova.
Certamente é uma tática interessante. Se igualar ao seu obstáculo. Odiá-lo. Odiar quem você é por não conseguir ultrapassá-lo. E, então, emergir novo, refeito, tendo vencido mais uma pedra, no meio do caminho.

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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER