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| filme 4 | CONTA COMIGO
Quantos amigos você já deixou pra trás?
- Desculpe por estragar a diversão de vocês.
- Isso nem devia ser diversão.
- Quer dizer que quer voltar?
- Não, mas ver um garoto morto não devia ser uma festa.
Dos muitos filmes da minha infância e adolescência Conta Comigo faz parte dos Cinco Mais. Quatro amigos que vivem numa cidadezinha do interior norte-americano se embrenham mata adentro, para encontrar o corpo de um jovem desaparecido (o filme foi baseado no conto The Body - O outono da inocência - O Corpo, de Stephen King). Nada de terror ou suspense. Apenas o drama de quatro crianças, que fazem da jornada um caminho mais curto para o amadurecimento. Tudo isso embalado por um trilha sonora linda, capitaneada pela inesquecível "Stand by Me" (Ben E. King).
Gordie Lachance (Wil Wheaton) é o narrado da história, ao seu lado estão Chris Chambers (River Phoenix), Teddy Duchamp (Corey Feldman) e Vern Tessio (Jerry O'Connell). Em comum o desejo de liberdade e a certeza que deveriam insistir muito para desviar os seus caminhos do destino escrito para cada um: crescer, viver e morrer naquela pequena cidadezinha.
- Você pode ser um escritor, Gordie.
- Dane-se. Não quero ser escritor. É uma perda de tempo.
- Seu pai disse isso!
- Besteira!
- Verdade! Sei que seu pai não liga pra você. Você é apenas um garoto, Gordie!
- Ahh, obrigado papai!
- Eu queria mesmo ser seu pai. Eu não ia deixar que você fizesse cursos idiotas. Deus deu um talento pra você. As histórias que você cria. Ele disse: “Dei isso pra você, não desperdice”. Mas crianças desperdiçam tudo se ninguém cuida delas.
Quantos de nós já não tivemos um quarteto? Eu posso contar três grandes quartetos na minha vida. O primeiro na infância. O segundo na adolescência para a fase adulta e o terceiro um quarteto temático – dos jogos do Fluminense (quarteto campeão). Essa necessidade por dividir aventuras, descobertas e medos parece que só ecoa até um certo momento. Depois, talvez auto-suficientes, somos jogados numa roda de relações superficiais, mantemos a linha coesa e não permitimos que ninguém mais veja os nossos verdadeiros sentimentos.
A amizade entre Gordie e Chris é o fio condutor da história, dirigida com maestria por Rob Reiner. O primeiro sofre a perda do irmão e o segundo sofre para afastar de si o fantasma de um futuro sombrio (já que pertence a uma família de delinquentes). A certeza e firmeza de Chris, porém, são o que impulsionam Gordie, desolado por ser rechaçado pelo próprio pai (que desconta nele a morte do filho predileto).
A forma como Chris sustenta o abalo emocional do amigo é emocionante. Como é bom ter alguém que segure completamente as nossas oscilações. Que simplesmente fale: “Vem aqui, tá tudo bem!”. Já passei por inúmeras situações na vida, mas nenhuma delas me trás tantas recordações como a morte do meu pai. Outro dia estava arrumando caixas aqui em casa e encontrei duas cartas. De dois amigos queridos que permanecem em minha vida. Escreveram pra mim no dia em que voltei da Argentina para o enterro do “velho”. Uma outra amiga fez mais: saiu do trabalho e, sem que eu pedisse, me ligou e disse que não importava como, passaria a noite comigo. Ela foi um pilar. Vou lembrar pra sempre, ainda que a vida tenha nos afastado (tão clichê).
“As vezes isso acontece. Amigos entram e saem da sua vida como garçons num restaurante (...) Apesar de não o ter visto há mais de dez anos, sempre sentirei saudades dele.”
Da mesma forma que tenho uma facilidade enorme para fazer amigos, tenho para deixá-los partir. Depois que vi o filme, já mais velha (hoje deve ter sido a quinta ou sexta vez), percebi que o tema “amigos pelo caminho” é recorrente na vida de muitos. Não me senti tão “monstra”. A verdade é que temos aquela coisa complicada chamada orgulho. Quanto mais velhos ficamos, maior o tamanho do orgulho. Outra coisa que aumenta muito é a expectativa que sentimos com relação ao outro. Então, numa equação que temos as variáveis orgulho mais expectativas o resultado só pode ser desastre.
Ao primeiro desapontamento sentenciamos que aquele amigo já não nos serve mais. Aquele mesmo amigo que já riu, chorou, brigou, defendeu e importunou você. É nele que descontamos nossas frustrações. Burramente a gente acha que a vida vai colocar outras ótimas pessoas em nosso caminho. Mas, as vezes, não coloca. E nos tornamos adultos saudosos, que relembram com gosto dos idos tempos em que éramos felizes e não sabíamos (tão clichê - dois).
Assim como Gordie, posso dizer que “Nunca mais tive amigos, como aqueles que tive aos 12 (18, 24, .....) anos. Meu Deus, quem é que tem?”