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| filme 13 | AMOR EM JOGO
Já viu o rosto de uma criança quando entra num estádio pela primeira vez?
- Cuidado, garoto, eles vão partir o seu coração!
Meu encantamento com o filme foi imediato. Encantamento e identificação. Este Amor em Jogo é uma refilmagem de Fever Pitch, um filme inglês com o Colin Firth. Ainda não vi a versão inglesa, que fala sobre o amor e devoção de um homem pelo Manchester United (ambos foram baseados no livro Febre de Bola do Nick Hornby). Na versão americana a paixão permanece a mesma, muda apenas o esporte. Sai o futebol e entra o beisebol, personificado no time do Boston Red Sox. A história gira em torno do professor Ben, um fã incondicional do time. Ele se apaixona por Lindsey um executiva que só pensa na carreira.
A paixão entre os dois explode na pré-temporada. Sem os jogos do Red Sox, Ben pode se dedicar com afinco ao novo amor.
- Uma nova temporada!
- Um novo começo!
- Parece que esse ano vai ser O ANO!
A vida de Ben gira em torno do time. A casa, os amigos, a vida social, tudo que o cerca tem a ver com a equipe. O Red Sox é a sua religião. Ao acordar, um belo dia, ele se benze tocando o retrato de um dos ídolos de sua equipe.
Mais do que um filme de amor, Amor em Jogo fala de paixão. Esse sentimento arrebatador que toma conta da gente que nos impede de ver tudo com clareza. Invariavelmente nos apaixonamos por pessoas, com o tempo esse sentimento se transforma em outra coisa. Mas, já perceberam que a nossa relação com o time que escolhemos para torcer permanece sempre em estado de paixão pura e latejante? Alguém, realmente torcedor, já teve a paixão e o fervor de torcer diminuído? É impossível.
- Bom, eu estive evitando isso. Tem algo que não sabe sobre mim.
- Meu Deus, aí vem a bolsa cheia de cabelo.
- O assunto é ...que sou um fã dos Red Sox.
- Sim?
- É que sou um grande. . . GRANDE admirador dos Boston Red Sox.
- Eu sei.
- Eu vi no seu apartamento as toalhas dos Red Sox...e os vasos e o papel higiênico
dos Yankees. É como se vivesse em uma loja de souvenir. É pior que isso.
- Quando eu era criança e me mudei pra cá, eu não tinha amigos. O meu tio Carl começou a me levar ao Estádio Fanway. Me perdi nos jogos. O estádio, as pessoas....As cores. . .os sons. . os cheiros. Logo ele morreu de câncer e me deixou as suas entradas para toda a temporada. E é uma paixão. É uma parte muito, muito importante da minha vida . E esse tem sido um problema comigo e com as mulheres.
- Eu conheço essas mulheres. São as que dizem 'Preste atenção em mim - E: "Por que não fala pra mim?"
- Sim. Exato.
- Essas mulheres são tão patéticas.
- Sim, dizem: "Por que se emociona tanto?" E eu falo: "Às vezes eu gosto de ter 11 anos de idade". Gosto de ser parte de algo que é maior que eu. É bom se entregar à algo que não pode controlar.
- Você é um romântico. Tem uma alma lírica. Pode amar sob as melhores e as piores condições.
- Sim, eu acho que sim.
Lembro como se fosse hoje da forma como fui apresentada ao filme. Uma amiga viu, me ligou e disse: “Renata, você precisa ver esse filme! O torcedor apaixonado pelo time de beisebol é você. Só que no seu caso é o Fluminense, né?” Desde então, fiquei caçando o filme sem parar. Não encontrava. Até que num belo dia essa mesma amiga me presenteou com ele. Comecei a ver na hora. E tive um choque. Acho que sou até pior que o Ben. Já parei minha vida pelo Fluminense. Ontem, por exemplo, o clube vendeu meu grande ídolo em anos. Simplesmente não consegui mais raciocinar. Por conta desse episódio, não tive dúvidas sobre qual filme assistir.
O sentimento de pertencer a algo maior, que o personagem principal relata no diálogo acima, também está presente em mim. Não dá para descrever em palavras a emoção que é ver o time entrar em campo, o pó de arroz, as bandeiras, o cheiro do saudoso Maracanã, o entusiasmo, aquele micro instante antes de um gol, em que absolutamente todos parecem segurar a respiração ao mesmo tempo. Cada abraço após um gol, cada palavra de conforto após uma derrota sofrida, cada cerveja, cada grito de alegria após um título. Ano passado, vivi os melhores momentos da minha vida até aqui. O mês de Dezembro de 2010 é histórico e épico. As caravanas para São Paulo, as contas na tabela, a secação sobre os rivais, os jornais de segunda-feira. Tudo isso dividido com amigos e pessoas que farão pra sempre parte da minha vida!
Nossa, que pena eu e Ben temos de quem não tem uma paixão como a nossa! Que pena!