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| filme 20 | O GAROTO DE LIVERPOOL

Você quer ser um ídolo de milhões?

- Terá sorte se conseguir um emprego nas docas, porque, pelo jeito, você não irá a lugar nenhum. Aqui, na Escola Quarry Bank, você não vai a lugar nenhum.
- O "lugar nenhum" tem muitos gênios, senhor? Porque, então, devo pertencer a esse lugar.

O Garoto de Liverpool começa mostrando a história de um garoto qualquer na Inglaterra. Alguém rebelde, que mora com a tia e vive provocando colegas, fazendo peripécias como tantos e tantos adolescentes. Mas, rapidamente, descobrimos que não se trata de um jovem comum. É o John Lennon. E tampouco vemos um período conhecido da sua vida. A história, aqui, gira em torno do conturbado relacionamento entre John, sua mãe biológica Julia e a tia que o criou, Mimi.

- Ela te machucará, você disso, não é?
- Vou começar uma banda de rock'n'roll. Como Elvis.

A tia de John é uma inglesa típica (seja lá o que isso signifique). Só sei que a mulher é contida, toma chá, gosta de música clássica e lê sem parar. Até o sotaque britânico parece ser mais acentuado. A mãe é sua antítese. Vive uma vida bagunçada. Já foi de diversos homens (um deles o pai de John). Gosta de rock, canta, toca instrumentos (compra um violão e ensina os primeiros acordes para o filho).


Esse é o John olhando para seu primeiro violão.


Com as duas descrições fica fácil perceber quem passa a merecer a maior atenção do futuro beatle. Durante boa parte do filme, vemos as reações do trio diante das novas configurações de relações que se abrem. Talvez o filme cometa o pecado de não se aprofundar nos sentimentos de cada um dos três – John, Julia e Mimi. Fica tudo muito marcado: a mãe descolada e doida, a tia antiquada e o garoto rebelde.

- Se vamos fazer isso, deveríamos escrever nossas próprias músicas. Assim não somos processados pelas gravadoras.
- Eu escrevo algumas coisas. Não canções, mais poesia...Sabe, histórias.
- Ponha uma melodia e temos uma canção.
- Você já escreveu alguma?
- Umas duas.
- Como você sabe tanto?
- Você não parece o tipo de cara roqueiro.
- Porque não saio por aí quebrando coisas e agindo como um panaca?
- Sim.
- Não. É a música. É isso aí, é só música. Simples.

Lá pelas tantas, entra na banda incipiente o garoto Paul. E aí temos mais uma situação: o ciúme de John na relação que se estabelece entre o amigo Paul e sua mãe biológica. Mas, o filme também não se aprofunda. E na verdade ficamos sem saber o quanto disso foi verdade e o quanto foi licença poética.

- Você o amou?
- Me matou de susto.
- Lugar certo pra isso. O amou?
- Bem, isso é uma coisa horrível de se dizer.
- Você nunca demonstrou.
- Você que nunca viu.
- Com minha visão, possivelmente. Não vou ficar ressentido com ela, pelo que ela fez em Blackpool.
- Perdoar e esquecer, suponho.
- Esquecer? Eu gostaria. Só que não tem sentido odiar alguém que se ama. Quero dizer, amor de verdade. Tem, Mimi?

John consegue encontrar a paz nos seus sentimentos pela tia e pela mãe. Algo que vivia em conflito dentro dele passa a coexistir, sem maiores traumas. Depois de uma conversa desconcertante entre o trio, as arestas são aparadas. As irmãs conseguem não mais se odiar. John ganha duas mãe. Ocorre que esse momento de vida sem conflitos dura pouco. O garoto de Liverpool perde a mãe biológica. Num só golpe ele sofre pelo que perdeu e volta a dar valor para a tia que sempre o amou.

Não é uma história fácil. Não deve ter sido fácil ser John Lennon. 



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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER

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