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| filme 15 | O MENINO DO PIJAMA LISTRADO
Você já sentiu a dor do seu pior inimigo?
- E você, Bruno, tem lido os jornais? Tem lido alguma coisa?
- Livros.
- Ótimo. Que tipo de livros?
- Livros de aventuras, principalmente. Sabe, cavaleiros em armaduras brilhantes explorando terras estranhas e coisas, e princesas bobas sempre se metendo no caminho.
- Bem, é por isso que estou aqui pra ajudar. Quantos anos tem, Bruno? Oito? Está na hora de tirar a cara desses livros de ficação e começar a aprender sobre fatos.
Mais um filme sobre o Holocausto, de diferente é que dessa vez a história gira em torno de uma criança. O menino Bruno é quem dita o ritmo. Baseado no famoso livro de John Boyne (de mesmo nome), O Menino do Pijama Listrado é, na verdade, o antagonista da história. Protagonista e antagonista se fundem, mas isso só será perceptível para aqueles que decidirem ver o filme.
Em se tratando de produção que habita o terreno das história de guerra, pensamos logo que é um filmão. Afinal, são poucos os filmes que tratam do Holocausto que não podemos colocar o adjetivo - obra-prima. Esse é um deles. Não que seja ruim, é um bom passatempo. Ocorre que, o filme fica no terreno da ingenuidade do menino, e não cria momentos de muita tensão. Não li o livro, mas acho que a linguagem cinematográfica pede conflitos, tensão, jornadas, superação. Falta isso ao filme. Bruno é um menino ingênuo, que gosta de livros de aventura. Seu pai se torna comandante de um campo de concentração e, com isso, a família se muda para o interior da Alemanha. Ao avistar o Campo pela primeira vez o menino acredita ter visto uma fazenda. Com o tempo, vai descobrindo que a história é diferente.
-Do quê seu pai gosta?
-O quê ele gosta?
- Ele é um bom homem?
- Sim!
- Você nunca achou o contrário? E você tem orgulho dele?
- Sim. E você tem orgulho dos seus?
A vida sem amigos deixa o garoto sem ter muito o que fazer. Com a ideia de ser um grande explorador, ele decide ir até a “fazenda”. Quando chega lá percebe a presença de um outro menino como ele. A amizade que surge entre os dois, de vidas tão diferentes, irá conduzir todo o roteiro. Ao ouvir as histórias que o pequeno judeu conta, Bruno se vê sem saber em quem acreditar: nos seus olhos ou no que diz seu pai?
- Tenho vindo aqui por dias, mas você nunca está aqui. Eu pensei que não fôssemos mais amigos. Samuel, eu sinto muito pelo que eu fiz. Ainda somos amigos, não somos?
O que mais me chamou a atenção foi a ideia de que podemos ter e sentir a mesma dor que desejamos para alguém. É engraçado pensar que, as vezes, temos um presente tão diferente de outra pessoa e que, no entando, nossos destinos podem estar definidos e, acima de tudo, podem se cruzar em algum momento. O final do filme é seu grande momento. Um grito de dor que ecoa de fora para dentro do campo de concentração. A questão é simples: não devemos desejar ou contribuir para tanto mal que não possamos suportar. A dor do inimigo pode ser a nossa dor também.