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| filme 29 | BILLY ELLIOT
Escolher ser você mesmo. A grande solução para todos os problemas!
- Só uma última pergunta. Posso lhe perguntar, Billy o que você sente quando está dançando?
- Não sei. Eu me sinto bem. No começo é duro, mas quanto eu começo então me esqueco de tudo e... Pareço desaparecer. Sinto algo mudando no meu corpo todo. Como um fogo dentro de mim. Eu fico lá voando como um pássaro. Como a eletricidade..É... como a eletricidade.
Se você é um garoto, mora na cidade grande, nos dias de hoje, tem uma família liberal e decide ser bailarino, acha que vai ficar tudo bem? Provavelmente não. Então, imagina só a vida do Billy Elliot. Morador do Condado de Durham, no interior da Inglaterra, criado pelo pai (a mãe morreu), com um irmão mais velho, uma avó doente (mas que parece ser sua melhor companhia) e pobre. O pai e o irmão são dois autênticos machões, até por força do destino mesmo, não existe outra alternativa para eles. Trabalham em uma mina de carvão, nos confins da Inglaterra, um pouco difícil ser sensível numa hora dessas. Essa é a vida do garoto quando não consegue mais esconder a paixão pela dança.
Obrigado pelo pai, o menino frequenta as aulas de boxe. Não leva jeito algum para o esporte. Um belo dia, tendo que treinar até tarde por ter sido uma lástima numa luta com um colega de aula, Billy ouve sons vindos da sala vizinha no ginásio. Era uma aula de balé. Encantado com aquilo e sem conter os movimentos involuntários do corpo, o garoto entra no meio de todas as meninas e faz sua primera aula. Seguimos com ele durante as aulas e na árdua tentativa de esconder da família a paixão latejante pela dança.
Quando queremos alguma coisa com tanta intensidade como Billy quer a dança, é quase impossível esconder de outras pessoas. Talvez porque esse querer seja parte indissociável de nós mesmos. Ou realizamos essa coisa, ou perecemos. Quando o menino entrou pela primeira vez na aula de balé, descobriu a vida. Quando voltou, apenas estava se mantendo vivo.
O interessante na história toda é que o filme não foge ao debate sexual. Billy tem um melhor amigo gay, que tenta seduzi-lo. E apesar de não se sentir atraído por outros meninos ele tampouco desfaz o vínculo com o amigo. A paixão dele é a dança. A relação com o pai trata de outro tema: como aceitar o destino quando ele mostra um caminho diferente do usual. Um pai que deve decidir se consegue ceder às suas convicções para fazer o filho conseguir alcançar o sonho. É tocante a cena em que o garoto enfrenta o pai sem falar uma única sílaba. Enfrenta dançando. Não poderia haver cena melhor. Cinema em estado puro! Jamie Bell, que interpreta o Billy Elliot, alcançou aí um dos seus melhores momentos no filme.
Escolhas. É disso que fala Billy Elliot. Escolher ser aquilo que você é. Aceitar seus desejos, suas aspirações. É muito mais fácil ser respeitado por aquilo que somos de verdade, do que tentarmos nos fazer respeitar fingindo ser um alguém que não existe. Aceitar as escolhas. As nossas e daqueles que nos cercam – o segundo recado do filme. O importante aqui é entender que, quando se trata da essência de cada um, é impossível lutar contra. A recompensa é a felicidade, não importa se ela significa sucesso. Ser feliz, aqui, pode ser, apenas, ver seu filho voar (num dos momentos mais tocantes da história) ou você mesmo voar (o sonho de Billy). Ser feliz significa ser você, sem ceder.