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| filme 25 | 500 DIAS COM ELA
É amor quando não é correspondido?
- Somos jovens, moramos em uma das cidades mais lindas, podemos nos divertir enquanto podemos e guardar as coisas sérias para depois.
- Espera, e se você se apaixonar?
- O que foi?
- Não acredita nisso, não é? É amor, não o Papai Noel.
- O que essa palavra significa? Já tive relacionamentos e acho que nunca vi isso. E a maioria dos casamentos acabam em divórcio hoje. Não existe isso de amor, é fantasia.
- Acho que você está errada.
- Está bem, então o que estou perdendo?
- Acho que você saberá quando sentir.
- Acho que podemos concordar em discordar.
Confesso que tenho um certo receio de ver filmes sobre amor e romance que não sigam os padrões estilo “final feliz”. Medo que me deixem traumatizada. Como se já não bastassem os traumas da nossa vida real. Ficar traumatizada no Mundo da Imaginação é demais. Então, foi com certa ressalva que decidi ver (500) Dias Com Ela pela primeira vez. Não consegui no cinema, comprei o DVD. Escolhi uma sexta-feira, uma pizza, a companhia perfeita para a ocasião e vi. Revi agora. Nenhum trauma, o filme é delicioso!
Tom ( Joseph Gordon-Levitt ) é um carinha simpático e mega romântico. Um belo dia ele “acha” que encontrou a mulher da sua vida: Summer ( Zooey Deschanel ). A moça vai com a cara do mocinho, mas ela é por demais complexa e cética quando o tema é amor. Ao contrário do romântico Tom que já enxerga nela o sonho de mulher materializado, Summer quer apenas uma aventura casual, sem compromissos, sem maiores comprometimentos. O filme é cheio de bossa, visualmente falando. Acompanhamos uma sucessão de dias na vida de Tom e Summer, os 500 dias estão presentes mas não vamos do 1 ao 500. O roteiro não segue em ordem cronológica exata. Acontece que a coesão é perfeita porque, na verdade, o que comanda o filme não são os dias e sim o estado de espírito do mocinho Tom.
“Para Tom Hansen, essa foi a noite em que tudo mudou. A parede na qual a Summer se escondia, a parede da distância, do espaço, do casual...Essa parede estava caindo aos poucos. Pois aqui estava o Tom. No seu mundo. Um lugar que poucos foram convidados para ver. E aqui estava a Summer, querendo ele e mais ninguém.”
Uma das coisas interessantes do filme é que muitas situações são tão reais que, invariavelmente, todo mundo já viveu um pensamento ou um diálogo semelhante ao que vemos na tela. A forma como Summer, aos poucos, vai cedendo, mesmo que sem saber, aos encantos de um relacionamento (mesmo sem estar de fato tão interessada quanto paarece) já aconteceu conosco, ou com alguém perto da gente. É muito sedutor não ficar sozinho. E por conta dessa sedução somos levados a ter atitudes que confundem o outro. Quase sempre, magoamos esse outro.
- Qual o seu problema?
- O negócio é que...estou confuso. Por um lado não quero
esquecê-la, pelo outro...Sei que ela é a única no universo que me faria feliz. Já fez isso? Pensa nos momentos que já teve com alguém, repete-os na sua cabeça, várias vezes seguidas. Procura pelos primeiros sinais de problema.
A coisa fica feia para Tom. Quando nos envolvemos com alguém que racionaliza demais o amor é quase certo terminarmos a história de maneira trágica. Tom passa pelo calvário da rejeição. Sofre fisicamente a dor de saber que seu amor não foi correspondido. Mas, há tempo para redenção. Dele e dela.
As tentativas frustradas de Tom para esquecer o amor são exatamente iguais aquelas que qualquer um de nós já experimentou. Temos a certeza absoluta e inabalável que não conseguiremos viver sem alguém. Mas, se essa pessoa não nos quer só nos resta esquecê-la. E como fazer isso se ainda estamos inebriados e não conseguimos enxergar a infelicidade ao lado desse objeto do amor? Tom diz: “Sei que ela é a única no universo que me faria feliz.” Tenho uma teoria sobre essa percepção. Volto com ela mais adiante.
- É, mas é isso que não entendo. O que aconteceu?
- Eu só... Só acordei um dia e soube.
- Soube o quê?
- O que eu nunca tive certeza com você.
- -Sabe o que é uma droga? Perceber que tudo em que você acredita é mentira, é uma droga.
- O que quer dizer?
- Sabe, destino, almas gêmeas. Amor verdadeiro e todos aqueles contos de fada infantis.Besteira... você estava certa, eu deveria ter te escutado.
- Não.
- Sim, por que está sorrindo?
- Tom...
- Por que está me olhando assim?
- Bem, sabe, acho que é porque... estava sentada numa doceria lendo Dorian Gray, um cara chega para mim e me pergunta sobre o livro e agora ele é meu marido.
- É, e daí?
- E daí, e se eu tivesse ido ao cinema? E se eu... tivesse ido
almoçar em outro lugar? Se tivesse chegado 10 minutos mais tarde? Era... era pra ser. E... eu só ficava pensando...Tom estava certo.
Não estamos falando de uma história de amor. Estamos falando do Amor. Em como ele é percebido pela pessoas. Em como o contexto faz com que nossa visão do amor mude. Tom começa romântico e se transforma num cético (caminho percorrido por quase a totalidade daqueles que já viveram uma desilusão amorosa). Summer começa cética e vê o Amor, num belo dia. Tom salva Summer que salva Tom.
“Sei que ela é a única no universo que me faria feliz.”
Tom é salvo porque na verdade ele descobre que a nossa felicidade não é prerrogativa de ninguém. Sempre achei que o Amor está guardado dentro de cada um (ser ou não ser correspondido, portanto, não significa absolutamente nada). Em mim há amor, em você, nela, nele. Nós que escolhemos a quem vamos entregar esse amor. Quando é recíproco, ótimo, maravilha, sinal que chegou a hora. Quando não é significa que seu amor, de alguma forma, vai fazer a diferença. O amor de Tom não foi em vão. Ele vez Summer enxergar. Ela retribuiu o favor e o fez acreditar de novo. Summer aprendeu a dar amor. Tom passou do Verão ao Outono e encontrou o seu destino. Se o caminho tortuoso que envolve ser feliz e amar em plenitude significa entender isso eu, Tom e Summer estamos garantidos!