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| filme 27 | ELSA & FRED - UM AMOR DE PAIXÃO
Alegria, amor e felicidade não tem idade!
- Elsa.
- O que esqueci dessa vez?
- Isto. Se precisa do dinheiro. Não, não posso aceitar.
- Sua filha foi grossa comigo.
- Não ligue para Cuca. ela é temperamental, mas é boa.
- Cuca?
- Sim. Seu nome é Alicia, mas nós a chamamos de Cuca.
- Não posso.
- Tome. Fique com o cheque e pague quando puder. Darei o dinheiro para a minha filha, vai acalmá-la. O mais importante no momento são seus netos.
- Você é um anjo. Diferente da Cuckoo. Sei que foi uma piada de mau gosto. E você não gostou. Não quis ofender.
- Tudo bem.
- Alfredo. Obrigada.
“ A filha deve ter puxado a mãe...pois este viúvo é um charme.”
Elsa e Fred é uma produção hispano-argentina de 2002. Conta a história de um homem e uma mulher da terceira idade. Ambos sozinhos. Ela é um vulcão, uma mulher cheia de vida e alegria. Ele é um homem pragmático que a vida inteira foi “apenas correto”. Por um acaso do destino os dois se tornam vizinhos de andar, num apartamento de Madrid. O que vemos após o encontro é uma sucessão de situações pitorescas envolvendo o inusitado casal.
China Zorrilla, que interpreta Elsa, é uma das grandes damas do teatro argentino. Aqui ela faz a avó que todos nós gostariamos de ter. Imagine você com sua “abuelita” fugindo de um restaurante sem pagar? Ou então andando de carro, com ela ao voltante (falando no celular) e esperando que a cada curva possa surgir uma emoção diferente. Manuel Alexandre Abarca um famoso ator espanhol, falecido ano passado, interpreta o recatado Alfredo (Fred). Ele é o que conhecemos como o Vovô Fofo. Além disso, possui todas as famosas “manias de velho”: toma remédios de todas as cores, sente dores no peito (nunca é nada), não sai de noite porque faz muito frio e pode se resfriar, não come nada gorduroso por causa do colesterol. Em suma, não vive.
- Nunca foi feliz com ele?
- No início, talvez. Mas não por muito tempo. Foi culpa dele. E você? Qual foi a coisa mais ousada que já fez?
- Ousada? Não sei. Fiz muitas coisas. Mandei Cuca para a universidade... dei uma vida confortável à minha esposa. Vivi para a minha família. Tinha um bom trabalho. Quarenta anos trabalhando para a mesma empresa. Telefonica.
- Como pôde ficar 40 anos no mesmo lugar? E você deu muitas risadas?
- Que pergunta!
- Não, é uma pergunta muito pessoal.
- Acho que não. Que pena.
- Mas ainda tem tempo. Ainda tenho tempo. Primeiro fique perto de mim... como vizinha, como amiga... Tanto faz. Sei que vai voltar a rir de novo.
Fico pensando como deve ser passar uma vida inteira e descobrir que você poderia ter sido mais feliz. Se tivesse feito escolhas diferentes, aceitado outros caminhos. Fred teve sorte por topar com uma pessoa que abriu os seus olhos para isso. Quanto custa a felicidade? Vale a pena se dedicar a outras tarefas em detrimento de suas convicções pessoais. O mais legal é conseguir fazer com que dever e prazer caminhem juntos. Mas, se não for possível, qual caminho seguir? Uma vida correta e morna ou ser feliz por momentos? Eu não sei a resposta, decidi não procurar nada agora. Mas o Fred, com 78 anos, precisou tomar uma decisão. E tomou.
- Sexta-feira esqueci de tomar o comprimido verde.
- Por quê? Algum amor novo tão tarde na vida, talvez? Sério?
- Bem, só estamos começando. Eu diria que estamos no ponto em que chamaria de uma "rara amizade".
- Quantos anos ele tem?
- Não sei, 27, 28. Ele tem 78. Mas é impecável. Um pouco. Não sei....Um pouco opaco.
- Opaco?
- Sim, opaco. Um tipo contido. De uma vida inteira fazendo as coisas certinhas. Muito chato, sabe? Nunca cometeu um deslize. Nunca se meteu numa encrenca. E ele adora ser doente.
- Não creio que ele gosta disso.
- Doutor. (...) Ele vive falando da morte. Vou fazer aquele dinossauro viver, doutor.
Existe como não se apaixonar pela Elsa? Alguém com vida pra dar e vender, disposta a fazer outro alguém feliz, mesmo com tanta idade. Sem egoismo algum, ela doa amor e vida ao “certinho” Fred.
Tenho um pequeno trauma na vida: não tive avós por muito tempo. Do lado paterno não conheci meu avô. Minha avó casou de novo e tampouco conheci meu “vôdrasto” (viúva negra a minha avó? Imagina!). Já a minha avó paterna foi com quem tive maior conviência. Era comum sair do colégio e ir para a casa dela. Tenho inúmeras lembranças gastronômicas. Cocadas, bolos, comidinhas. Ela até me ensinou a fazer ovo mexido. Coisa que sei muito bem até hoje! Do lado materno tenho recordações mais sérias do meu avô. Era um sujeito libanês, super formal. O máximo de alegria que eu cheguei a ver foram os sorrisos de canto de boca. Minha avó materna foi quem deixou o maior legado em mim: o amor pelo Fluminense. Precisa dizer mais? De qualquer forma, se pudesse pedir alguma coisa na vida seria poder ter tido o prazer de conviver mais tempo com meus avós. Queria uma vó Elsa para chamar de minha!