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| filme 64 | FRIDA
"Não estou doente. Estou partida. Mas me sinto feliz por continuar viva enquanto puder pintar." – Frida Kahlo
Uma biografia extremamente fiel à história real e ainda assim emocionante e sensível. Não desmerecendo a direção nem o roteiro do filme, mas talvez o sucesso seja por se tratar do relato da vida de Frida Kahlo, uma das figuras mais emblemáticas do mundo das artes. Um clássico exemplo quando queremos tratar da vida de mulheres interessantes e que se eternizaram por algum motivo. Frida nos deu vários motivos. Mexicana de nascimento, criação e orgulho, a pintora se tornou um expoente por mostrar-se ao mundo através de seus auto-retratos. A menina-mulher, de beleza e nome exóticos, já deficiente devido à poliomielite, sofre um acidente e tem a vida inteira marcada pela dor e pelo sofrimento – muito desse ocasionado não só pelas mazelas físicas, mas pelo coração partido constantemente.
- Como se sente?
- Como me sinto? Não me lembro mais como era antes da dor. Terrível, não?
- Dr. Farill vem na segunda, com um especialista em coluna, Dr. Cervantes.
- Me sinto uma grã-fina rodeada de pretendentes, mas todos viraram médicos. E não sou grã-fina. Por que não me pergunta mais de meus planos? Você sempre dizia “Conte-me seus planos, Frida.”.
- Quais são seus planos, Frida?
- Agora, sou um fardo, mas ainda vou ser uma aleijada auto-suficiente. Depois, sei lá.
- Você não é um fardo, meu amor.
Interpretada por uma Salma Hayek fantástica, a Frida do filme nos remete fielmente à Frida que conhecemos de ler, ver e ouvir falar. Quando o assunto é a pequena e frágil artista, a imagem que temos é uma paleta de cores ambulante, com a cabeça a mil e o coração sempre ocupado do amor de sua vida (e causa de muitos dos seus problemas), o marido, e também grande expoente da pintura mexicana, Diego Rivera (Alfred Molina). Além disso, vemos na tela uma mulher forte, determinada, que não tem receio de assumir sua postura diante da vida e que não se subjuga a nada, nem ninguém (com breves exceções a momentos específicos com seu marido). É uma Frida bissexual, traidora, traída, alcoolizada, drogada, atéia e sempre voluntariosa – uma mulher que obedece seus desejos. Um dos poucos que não consegue cumprir, o de ser mãe, é um marco triste em sua vida e obra. Mas nada é tão patente como a relação quase doentia que desenvolve com Diego Rivera, que, segundo a própria, em cartas que inclusive compõem o filme, nunca deixou de ser o grande amor de sua vida. A relação entre os dois, que começou profissionalmente, quando Frida foi pupila de Diego, se transformou rapidamente em amor, paixão e, por que não, ódio.
- São bons, adorei.
- Você pintava melhor aos 12 anos.
- Que absurdo. Eu nunca iria pintar assim. Não saberia. Falo sério. Eu pinto o que vejo, o mundo exterior. Mas você pinta do coração. É maravilhoso.
- Agora entendo seu sucesso com as mulheres.
O filme foi indicado a seis categorias no Oscar de 2003 – melhor atriz, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor canção original, melhor maquiagem e melhor trilha sonora – vencendo as duas últimas. Ganhou prêmios no Globo de Ouro e no BAFTA, ambos também de 2003. Realizado por Julie Taymor, tem o roteiro baseado em um livro de Hayden Herrera e é realmente uma obra que enche os olhos: trilha sonora alegre, cores alucinantes, uma história linda e profunda e uma mulher inspiradora. Tem como não adorar?