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| filme 72 | RAZÃO E SENSIBILIDADE
Como lidar com o amor que está dentro da gente?
Elinor (Emma Thompson) e Marianne Dashwood (Kate Winslet) são duas jovens irmãs que moram com a mãe, a senhora Dashwood. Ela, viúva de Henry Dashwood, ainda tem mais uma filha (a pequena Margaret Dashwood) com o marido. Ele morre no início da trama, deixando ainda um filho do primeiro casamento, John Dashwood, que apesar de ter bom coração e tentar ajudar as irmãs é sempre demovido da ideia pela esposa, a gananciosa Fanny Dashwood. Completam esse círculo três personagens masculinos: o coronel Brandon e o irmão mais velho de Fanny, o nobre Edward Ferrars e o jovem John Willoughby.
O filme todo basicamente transcorre em tramas que envolvem estes personagens, sendo que praticamente toda a história se desenvolve tendo as irmãs Dashwood (Elinor e Marianne) como protagonistas. O filme de Ang Lee (direitor que venceu um Oscar pelo filme O Segredo de Brokeback Mountain), roterizado pela grande Emma Thompson (em uma adaptação do romance original de Jane Austen) é para aqueles que gostam de diálogos rebuscados, cheios de sotaque inglês, regados a muito chá e saudações cavalheirescas.
As duas forças que movem a história possuem comportamentos distintos. Marianne é jovem, romântica, atirada, transborda emoção e sentimento. Se entrega a uma paixão, vive intensamente e pouco tempo depois se vê solitária, perdida e completamente decepcionada com o destino do seu romance. Sofre o golpe, sentindo fisicamente a dor do amor. Elinor é contida, tímida, procura não demonstrar nenhum sentimento além daqueles que, por etiqueta, devem ser divulgados em público. Calada, sofre com a mesma intensidade a dor do amor. É, porém, quando se descobre igualmente amada pelo objeto de sua paixão que ela consegue deixar aflorar todo o sentimento que estava escondido.
A reconstituição da época é perfeita. O elenco é ótimo. Não é de espantar que o filme tenha sido indicado para vários prêmios do Oscar em 1996, tais como: Melhor Filme, Melhor Atriz (principal) (Emma Thompson), Melhor Atriz (coadjuvante/secundária) (Kate Winslet), Melhor Fotografia, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora (drama) e melhor Roteiro Adaptado, categoria na qual se saiu vencedor.
Falar de amor sem cair no dramalhão é uma das especialidades do diretor Ang Lee. Em filmes como Banquete de Casamento e Comer, Beber e Viver (quando ainda era desconhecido do grande público) ele tratou do tema com muita sensibilidade e, acima de tudo, verdade. Adaptar uma obra do século passado para as telas e fazer isso sem cair no terreno perigoso do clichê foi um dos segredos do sucesso para este filme. Durante a primeira hora e meia nos deixamos levar pelas personalidades tão diferentes das personagens centrais. Rapidamente nos afeiçoamos pela alegria e espontaneidade de Marianne e temos vontade de dar um choque elétrico na retraída Elinor. No momento da virada, quando Marianne se vê muito doente, acontece a transformação das personagens e da nossa percepção. Elinor se vê impelida a ser mais transparente, Marianne amadurece sem perder suas melhores qualidades. O recado é interessante. Amar sem medidas é um risco, para todo mundo. Para quem ama e quem é amado. Amar em silêncio também não serve. Talvez seja melhor misturar um pouco de Elinor com pitadas de Marianne.