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| filme 93 | O PODEROSO CHEFÃO
Nós
acreditamos em Don Vito Corleone!
A brincadeira da frase acima faz referência
ao início deste filme do diretor americano Francis Ford Coppola, considerado
por muitos como a grande podução do cinema americano dos últimos cinquenta
anos. Não é fácil falar de uma obra como essa. Uma realização cinematográfica
cuidada nos mínimo detalhes, fruto da parceria entre Coppola e o escritor
norte-americano, especializado em livros sobre a máfia, Mario Puzo. Um filme
que subverte conceitos ao ser comercial com ritmo lento, tempo característico
das obras consideradas “de arte”. Talvez por isso, as cenas de assassinato (as
muitas e fantásticas cenas) sejam regidas pela música clássica e melancólica de
Nino Rota (também responsável pela trilha do segundo filme da trilogia). Todo esse trabalho que se materializa em tela através de ícones do jeito americano de interpretar como Marlon Brando (inesquecível e vencedor do Oscar por esse filme, que ele não foi receber, obviamente.), o jovem Al Pacino (de olhar marcante), Diane Keaton (na época em que não fazia caretas), James Caan, Robert Duvall, entre outros. A produção recebeu, ainda, o Oscar de melhor filme e melhor roteiro adaptado, em 1973.
Quando olhamos para um bom filme geralmente
vemos uma boa história que nos prende e diverte, quando olhamos para um
clássico, uma obra que divide eras, vemos novidades a cada nova projeção. Desta
última forma, é o olhar que devemos ter sobre O Poderoso Chefão. Você pode ser
crítico treinado e afiado ou pode ser uma cinéfilo de primeira viagem, mas a
cada novo olhar certamente descobertas serão feitas.
A passagem de poder da família Corleone é o
tema central do primeiro episódio da saga. O contexto é a conturbada relação de
forças entre “as famílias” de imigrantes italianos que se estabeleceram nos
Estados Unidos ao longo das primeiras décadas do século XX. A palavra máfia não
aparece neste primeiro episódio e os negócios são tratados sempre com um ar
nebuloso, com a clara intenção de separar o mundo luminoso e feliz, da família
real, do mundo obscuro e ilegal, dos negócios criminosos. Aliás, é assim que
começa o filme. O casamento da filha de Don Vito é repleto de alegria, música,
dança, vinho e muita comida. Dentro do seu escritório, num ambiente onde
predomina a fotografia escura, o tom baixo e a supremacia dos olhares sobre as
palavras, o chefe dos Corleone recebe o coveiro e trata a vida alheia como
mercadoria. As palavras são ditas para Corleone: “Eu acredito na América”.
Falando isso, o coveiro acredita que o Don irá ajudá-lo a vingar a filha
violentada. Essa América, de Don Vito Corleone, é aquela que faz justiça dentro
da criminalidade. Aquela em que mesmo um criminoso pode ser um herói.
Quer entender um pouco mais? Veja o programa Cinematografo, gravado em 2008. Com comentários do crítico Pablo Villaça.
Já a América do seus filhos Sonny (James
Caan) e Michael (Al Pacino) é outra. O primeiro é um furacão, guiado pela
emoção, é violência pura. Sua crença é a “família criminosa”, em nome dela e
por ela faz qualquer tipo de coisa. O segundo é a antítese de tudo aquilo que
Don Corleone representa. Afastado da família, vive um amor com Kay Adams (Diane
Keaton), serve ao exército americano e abomina os negócios em que o pai está
envolvido. Por conta disso, O Poderoso Chefão também poderia ser a história de
como somos levados a fazer aquilo que não planejamos. Como, as vezes, nossas
escolhas são condicionas ao lugar onde fomos criados ou às pessoas que
participaram da nossa vida.
Quando Don Corleone tem a vida ameaçada
duas são as reações. O esquentado Sonny parte para o enfrentamento, enquanto o
cerebral Michael começa a trajetória que o levará, em pouco tempo, a um patamar
que ele jamais imaginara. A sua transmutação só pode ser notada por conta do
trabalho antológico de Al Pacino. É visível como o olhar de Michael vai
perdendo vida cada vez que ele decide pela “família”.
O fato é que nunca houve, nem haverá, uma
família como a dos Corleone. Dentro do mundo criminoso Coppola conseguiu
construir um épico em que os heróis são os bandidos e os bandidos são mais
bandidos ainda. A família Corleone, de Don Vito, possui honra e a defende com
sangue, seja ele de quem for. A família Corleone, de Michael, recebe a palavra
vingança antes de tudo. Porque foi por vingança que ele decidiu abraçar os
“negócios”, é a vingança que faz com que ele amaldiçoe, voluntaria e
involuntariamente a vida de todos aqueles que ama. A honra, a vingança, o
sangue, no começo de tudo. O terreno fértil onde será erguido o segundo filme
da saga.
O Poderoso Chefão é um filme sobre um homem
que é guiado pelos fatos, e depois se apodera deles, se transformando em outro
homem, pior do que era. É, pois, uma tragédia. Uma belíssima tragédia, mais que
americana, humana. Talvez por isso, seja, ainda hoje, um filme atual. Um épico
intimista, talvez o único filme que possa levar essa adjetivação. Um obra
cinematrográfica completa, onde direção de arte, direção de atores, figurino,
fotografia, roteiro e trilha sonora tem papel fundamental e relevante para
explicar o caminho de cada personagem.
Se você quiser ver essa maravilha, em casa, é só comprar!
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