Tweetar
| filme 92 | UM NOVO DESPERTAR
A carreira de Jodie Foster como atriz é de uma qualidade inegável e apresenta variações que vão desde uma periguete de quinta, que é estuprada nos fundos de um daqueles restaurantes de beira de estrada, até uma inglesa que encanta um poderoso monarca asiático numa refilmagem de um clássico americano. Inúmeros filmes de comédia, suspense, terror, clássico eternos como Taxi Driver ou O Silêncio dos Inocentes. Uma enormidade de prêmios e indicações, além de dois Oscar na estante(ou no banheiro, onde ela diz guardar as estatuetas douradas mais famosas do Mundo).
Acontece que, quando dirige filmes, Jodie tem uma predileção por dramas familiares. As relações entre pais e filhos, maridos e esposas, irmãos e toda a sorte de agregados que uma família pode reunir são temas recorrentes de suas assinaturas na direção de filmes. O primeiro trabalho, Feriados em Família, conta a história da reunião de uma típica família americana para o feriado de Ação de Graças (tão badalado pelas bandas de lá) e seus desastrosos desdobramentos. Depois, a relação conturbada entre uma mãe solteira e seu filho superdotado, Mentes que Brilham. Sendo assim, Um Novo Despertar, filmado em 2011, é mais um exemplar que não foge ao estilo que a grande atriz tenta imprimir em seus filmes.
É a história de um homem que sofre de depressão. Walter Black, um empresário do ramo de brinquedos, não é qualquer deprimido. Ele sofre, com força e profundidade,dessa doença, que muitos chamam de "mal do século XXI". Já tentou de todas as formas se curar. Desde remédios, que já não fazem mais efeito, até bater tambor em terapias experimentais e transcedentais, que obviamente não resultaram em nada. Quer dizer, resultaram num sujeito prestes a cometer uma loucura. E é quando atinge o fundo do poço, tentando não mais viver, que Walter é resgatado por um fantoche de um castor. Acontece que quem manipula e dá personalidade ao fantoche é o próprio Walter, que faz do braço fantasiado a extensão saudável e bem sucedida da sua fracassada personalidade. É através doCastor/Braço/Voz/Segunda Personalidade que Walter consegue recuperar o diálogo com sua mulher (Jodie), seu filho mais novo e consegue reerguer a empresa que herdou do pai. O filho mais velho, talvez por sofrer dessa estranha composição que caracteriza os filhos mais velhos – o terror de parecer em demasia com os pais, não consegue aceitar tamanha esquisitice e se rebela, tornando tênue o processo de aparente recuperação do pai.
"E eventualmente, o que pareceestranho se torna comum.
O que parece impossível se torna realidade.
Até que, quase de repente, começou a sesentir como antes.
Começou a se sentir como novo"
Mel está fantástico, fantástico mesmo, como o atormentado Walter. Todo o restante do elenco orbita em torno dele, como, aliás, era pra ser. Incluive a queridinha Jennifer Lawrence, num papel de menor destaque, mas com boas cenas garantidas. Jodie leva o filme com sensibilidade (interessante a cena em que a esposa de Walter deixa a casa, levando os filhos e alguns objetos dentro do carro, como que avisando para ele "tudo que importa na vida cabe dentro deste carro, acorde, homem!". Com a esposa poucas coisas, porém suficientes para tirar a vida do lar de Walter) e mostra como é duro um processo de autodestruição dentro de uma família - seja de um pai, mãe ou um filho - a questão é que sempre deixa marcas impossíveis de serem apagadas. Apenas quando decidem encarar o problema de frente, apenas quando os fantasmas são libertados é que podem ser combatidos. E o processo que leva Walter a libertar os seus, dispara uma série de eventos que também trazem respostas para todos os outros membros da família.Eles descobrem que para combater o inimigo precisam enxergá-lo.