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| filme 35 | A MARCHA DOS PINGUINS
O afeto e o amor não são exclusividade nossa!
“E quanto aos anteriores habitantes todos morreram há muito tempo atrás. Bem...quase todos. A lenda conta que uma tribo ficou para trás. Talvez eles julgassem que a mudança do clima era temporária. Ou talvez sejam só teimosos. Seja qual for a razão, estas almas recusaram-se a partir. Durante milhões de anos fizeram o seu lar no maisescuro, seco, ventoso e frio continente da Terra. E o fizeram praticamente sozinhos! Pode se dizer que esta é uma história de sobrevivência. Um conto sobre a vida que vence a morte. Mas é mais do que isso é uma história sobre amor!”
Já vou logo avisando: nunca considerei documentário cinema de verdade. É uma heresia? É sim! Mas, e daí. Estou fazendo uma revelação no MEU blog. Então, me considero liberada de todas as patrulhas. Vou refazer a afirmação: nunca considerei documentário cinema de verdade até assistir ao filme A Marcha dos Pinguins, em francês La marche de l'empereur. Em francês porque a produção é francesa. Assim como o seu diretor, o biólogo (isso mesmo!) e cineasta Luc Jacquet. O filme ganhou o Oscar de melhor documentário em 2006.
O nome em francês significa, em tradução literal, a Marcha do Imperador. Imperador porque se trata do maior tipo de pinguim dentro da família Spheniscidae (o nome pomposo dos nossos amiguinhos que habitam a parte de cima das nossas geladeiras). Pois bem, se você achava que a maior serventia desses bichanos era a de ser rival do Batman, ledo engano! Eles são ótimo atores! De verdade!
A história do documentário gira em torno do movimento feito pelos pinguins-imperadores, sempre no inverno, na Antártida, para chegarem até Oamock, o local que desde sempre eles usam para acasalar. Deixam as águas (onde é naturalmente o seu habitat) e se dirigem (todos juntos!), guiados pelo líder, até o local onde permanecem durante todo o inverno com um único objetivo: namorar, noivar, casar, ter um “filho” e se separar. São os casamentos mais rápidos de que temos notícia.
“Luas vão e vêm, e em breve será a noite interminável. E, finalmente, num dos primeiros dias de Junho, nos lembramos porque vieram aqui. Assim que o ovo aparece é retirado imediatamente do frio. O pequeno coração que bate dentro do ovo não resistiria mais que uma breve exposição ao frio. A partir de agora o casal só tem um único objectivo. Manter o seu ovo vivo.”
Sou encantada com esse filme. Pela história em si, mas, principalmente, pela forma maravilhosa e original encontrada para fazer a narrativa. A começar pela narração, propriamente dita: Morgan Freeman é o narrador. Além disso, o foco do documentário se concentra na história de uma “família” de pinguins: o macho, a fêmea e o filhote, fruto deste romance. O mais interessante: Luc Jacquet optou por dar voz aos bichanos, vemos na tela diálogos construídos no seio familiar. Sensacional.
“De volta aos cuidados da mãe, a cria não tem medo de voltar a sair. Apesar de só se conhecerem há alguns dias,
o laço de maternidade é surpreendentemente forte. E nas próximas semanas vai ficar ainda mais forte. A força do inverno cai pouco a pouco. E as crias começam a correr mais livres. Alguns precisam de um pouco de encorajamento. Mas eventualmente, todos vão achar a sua maneira. O Inverno pode ter acabado. Mas os perigos não ! Agora é fim de Agosto. É tempo de as mães voltarem para se alimentar, uma vez mais. Para alguns isto é inaceitável. Mas é também, não negociável. Agora que já têm idade suficiente, as crias ficam sozinhas pela primeira vez.”
A outra parte que me encanta é a história desses animais. É chocante quando vemos que num outro mundo, em outra perspectiva de vida, seres vivos passam pelos memos dilemas que nós humanos. Deixar sua casa, migrar para outro porto, fazer desse lugar sua nova morada, se relacionar com outras pessoas, se apaixonar, amar, ter filhos, cuidar desses filhos, ao mesmo tempo em que não pode deixar de cuidar de si mesmo. Quantos dilemas da vida moderna! Todos vividos por nós e pelos pinguins! Somos realmente prepotentes ao pensar que é difícil só pra gente.
A dimensão de humanidade conseguida num documentário, sobre animais, faz desse filme uma das coisas mais lindas que eu já vi. A própria cena inicial, que mostra a marcha dos nossos “amigos da geladeira” saindo do mar e iniciando a caminhada no gelo é um sinal: a câmera começa seu enfoque de longe, vemos apenas a penumbra e o contorno dos pinguins, e temos a nítida impressão que são seres humanos na tela. Bem, logo depois vemos que não são. Mas, quer saber, são mais humanos do que muita gente por aí!
“Então... um dia... eles dão o mergulho. E vão para casa...Pela primeira vez. Durante 4 anos as crias vão viver no mar. Mas quando a luz do sol começar a desaparecer no final do seu quinto ano, e os dias quentes começarem a esfriar eles também sairão da água. E também irão marchar. Tal como fazem há séculos. Desde que o pinguim imperador decidiu ficar. Para viver e amar. No mais duro local da Terra.”