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| filme 37 | PLANOS PARA AMANHÃ

Sobre atitudes e suas consequências.

- Eu não tenho certeza do quero fazer.
- Bem, eu tenho.
- Tem?
- Claro. Pensava que você também.
- Hoje foi um dia muito estranho. Eu não quero apressar algo tão importante. Eu me sinto tão estranha. Seria tão horrível?
- Não, não é péssimo em tudo, é a coisa mais natural do mundo. Mas eu simplesmente não quero. Eu não quero filhos e você sabe disso. Eu sempre deixei isso bem claro, Inês. É por isso que estou surpreso.
- Estou surpresa também, Alberto. Mas aconteceu. É real.
- Sabe o que isso significa? Estamos bem assim. Gosto da vida que levamos. É tudo que eu quero.
- Será que pensará o mesmo dentro dez anos?
- Como espera que o que vou pensar em dez anos, Inês?
- Não quer ter filhos, ou não quer tê-los comigo?

Esse é o primeiro grande diálogo do filme espanhol, dirgido por Juanas Macías. E apesar do que o teor possa sugerir não se trata de um filme sobre aborto.  A história transcorre praticamente em um dia, são quatro mulheres que precisam tomar atitudes. Se pensamos que são narrativas isoladas, estamos enganados. Cada história se interliga com a outra, seja por relações afetivas que a diretora faz questão de esconder até o momento certo, seja por fatos de força maior que ocorrem na história.

Uma mulher que precisa decidir entre o amor por um homem e ter o não um filho. Dois relacionamentos falidos, um por culpa dela, o outro por culpa dele. Uma nova paixão que se inicia e uma antiga paixão que é revivida para sempre. São esses os ingredientes mais do que interessantes do filme.

- O que vou te dizer, vai parecer uma loucura, mas quando saí daqui e voltei para Londres comecei a sonhar todas as noites contigo e acordar todas as manhãs com as últimas palavras que me disse. Você se lembra? "Vai passar", pensei. Mas seu rosto, suas mãos, o cheiro do seu cabelo, o sabor da sua saliva, permanecem comigo e não vão embora. Permanecem comigo todo segundo do dia. Toda vez que pegava o metrô de manhã, toda vez que fazia anotações no meu caderno em intermináveis reuniões de trabalho. Conheci outras mulheres, mas não ajudou em nada. Tentei te esquecer, sinceramente. Tentei continuar com minha vida. É verdade, não minto. Tentei ficar deprimido, para cuidar de mim. Tentei fazer esportes, aprendi a cozinhar, pratiquei yoga. Mas ainda penso em você todos os dias, durante todos esses anos. E é por isso que eu decidi vir. Para te dizer. Preciso saber o que passa na sua cabeça.

A grande questão da produção gira em torno das atitudes que tomamos por amor. Aquelas que decidimos ter no calor do sentimento e que, de uma forma ou de outra, irão nortear nossa vida e ou bom o mau uso que faremos dela. O tema é recorrente em muitos filmes, mas, aqui, ocorre o enfrentamento da situação sem meias palavras. Nada é floreado. É legítima a atitude de uma mãe de família que decide largar o filho e o marido para viver a paixão pelo grande amor, em outro país? É legítima a atitude desse grande amor em vir até a mulher, para cobrar um sentimento, que ela já havia decidido enterrar? Vamos julgar? Qual dessas pessoas? Podemos julgar o marido abandonado. Ele fez um pacto pela felicidade com a esposa que decidiu largá-lo, ou fez um pacto para apenas sobreviver? Temos que nos amarrar em alguma convenção moral para deixar a felicidade de lado? 

É defeso a todo e qualquer ser humano o direito de ser feliz. Não importa idade, classe social etc. Porém, para cada atitude há uma consequência. É um risco e não é calculado. Isso porque não estamos falando de uma ciência exata. Estamos falando de amor. Decidir ter um filho, indesejado pelo homem, abandonar a família para viver um grande amor, se separar do marido para proteger a filha, são todas atitudes de amor que irão gerar consequências. Estamos preparados para isso? Nunca. Aí é que reside a graça. Seja como for, o importante recado que devemos captar é: “faça o que tiver que fazer, siga apenas um objetivo – se não puder ser feliz agora faça todo o movimento para garantir essa felicidade mais na frente."


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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER