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| filme 38 | DE PERNAS PRO AR

Dando risada da própria vida.


- Linda e super querida.
- O que adianta ser bonita, gente? Se for vazia, sem conteúdo. As aparências enganam, sabiam?
- Ah não, perai. Não é o caso da Dani. Olha só, formada em História da Arte, fala três idiomas, escritora, tem livro publicado.
- Hmmm, que livro?
- Ééé...
- Aquele “A Beleza por de tras das aparências...”
- Ohhh, Daniela Santuchi? Amo, amo! Meu livro de cabeceira.
- Marcela, eu vou dar uma saída.
- Vai pra que lugar?
- Vou ali, ter um ataque de inveja na varanda!

Dentro da onda de comédias nacionais iniciada com o sucesso de “Se Eu Fosse Você”, essa produção estrelada por Ingrid Guimarães talvez seja aquela com maior carga feminista. Não é um feminismo boboca, do estilo militante. Mas, é um filme centrado na figura de uma mulher independente, de grande sucesso na vida profissional, mas que não consegue paz na vida pessoal.

Alice é uma profissional de sucesso. Acontece que esse sucesso todo está restrito ao mundo profissional. Dentro de casa ela tem marido e filho, mas não consegue “dar conta do recado”. Até o dia em que seu marido não aguenta mais e decide “dar um tempo”. Ele sai de casa e, para desespero total, Alice é demitida no mesmo dia. Perdida, desiludida, se sentindo mal amada, ela encontra uma vizinha do prédio e começa a mudar a sua vida. A moça é uma dona de Sex Shop, e, através dela, Alice redescobre a si mesma.

- O que eu faço, mãe?
- Você ainda gosta dele?
- Não sei.
- Vai lutar por ele?
- Não sei.
- Sente saudade?
- Não sei também. Quando é que a gente sabe se deixou de amar alguém?
- Filha, a gente sabe quando deixa de amar alguém. Quando a gente não sabe que é o problema.

A relativa independência da mulher moderna (e por isso é uma filme feminista sem tantos clichês) aparece quando Alice se sente balançada pela saudade que sente do marido. Ainda que não saiba bem o que está sentindo, fato é que ela se sente incompleta. Numa conversa com a mãe ela decide pocurar o ex-marido. Mesmo com toda a independência do Mundo, ela sabe que para ser completa precisa ter alguem com quem dividir suas angustias, medos, alegrias e sucessos.

“Talvez a realização maior não seja o fato de comemorar sozinha a alegria de uma conquista profissional. Talvez a verdadeira realização seja a de encontrar alguém com quem você possa dividir sua conquista.”

A produção faz rir muito mais pela forma interassante como a atriz Ingrid Guimarães constrói a personagem principal, do que pelas piadas em si. A Alice de Ingrid é alguém que podemos, de fato, conhecer. É possível que existam mulheres como ela, que tenham que se equilibrar entre profissional e pessoal sem deixar que isso se transforme em um fardo impossível de carregar. As piadas oscilam entre aquelas que damos um leve sorriso e outras que despertam uma risada natural, isso por conta do enorme talento de Ingrid para a comédia. 

Fico imaginando algumas mulheres que passaram por crises no casamento e que optaram por soluções bem humoradas, exatamente como a personagem principal. Fato é que, quando alguma coisa vai mal na nossa vida pessoal, temos que olhar para nosso próprio umbigo e descobrir em nós mesmos a solução daquilo que nos impede de viver plenamente conosco e com aqueles que nos cercam. Não esquecendo de fazer essa caminhada contando piada para a vida!

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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER