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| filme 39 | 2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO


A eterna busca por respostas.

Quando sabemos que um filme se tornará um clássico? Difícil reconhecer a genialidade e atemporalidade de uma obra cinematográfica assim que é lançada. Os membros da Acadêmica de Artes e Ciências Cinematrográficas de Hollywood já provaram dessa dificuldade. Em 1969, Carol Reed, diretor de Oliver, festejou o prêmio de Melhor Diretor e Melhor Filme. Stanley Kubrick, o gênio por trás desta que é considerada a maior obra de ficção de todos os tempos, teve que se contentar com um singelo prêmio de efeitos especiais.

Obviamente, tivemos inúmeros filmes fantásticos em matéria de ficção científica. Mas, não seria forçar a barra se considerássemos 2001 – Um Odisseia no Espaço o Pai da ficção científica, enquanto gênero cinematrográfico. As sequências espaciais com naves fidedignas ao que era feito na Nasa e a exata tradução do mundo real ao não termos som no deslocamento das espaçonaves no espaço (o som não se propaga no espaço) fazem o filme não perder a qualidade, mesmo com tanta evolução na arte dos efeitos especiais.

2001 é, definitivamente, a tradução do poder da imagem no cinema. Mais que um filme de palavras (são pouquissímos diálogos durante toda a projeção, a primeira fala surge depois de 29 minutos de exibição), temos uma história que se explica através das imagens. Edicão de som, montagem, direção de arte – todos os itens do cinema enquanto captador do movimento estão presentes com técnica perfeita. O que dizer do corte que une 4 milhões de anos de História?

O corte de edição que junta, na mesma imagem, 4 milhões de anos da História.


A obra-prima começa com a seção “A Aurora do Homem”. Nela os atores são macacos (aqueles que seriam nossos ancestrais, na visão dos cientistas e estudiosos do tema). Acompanhamos o desenrolar da vida de tribos desses primatas e o surgimento dos primeiros traços de desenvolvimento tecnológico. Inesquecíveis e emblemáticas as cenas em que um macaco consegue fazer de um osso isntrumento para caçar e cortar um animal, aquela em que um macaco consegue matar um rival de outra tribo com o uso de outro pedaço de osso (fazendo, assim, o marco zero do início da subjugação daqueles que conseguem desenvolver armas letais) e o famoso corte de 4 milhões de anos – quando um macaco joga o osso que virou arma para o alto e ele vira uma nave, em pleno espaço sideral. Nessa primeira parte, surge o monolito preto – um objeto que depois de tocado pelos macacos fez com que eles tenham conseguido criar as novas utilizações para os ossos dos animais mortos (arma para caça e arma para matar os semelhantes).

A segunda seção do filme, nomeada AMT-1, mostra o aparecimento do mesmo monolito, só que agora na Lua. Pessoas tiram fotos ao redor dele, que de repente emite um sinal muito forte.

A terceira seção é conhecida como Missão Júpiter. Nela somos apresentados a um dos maiores vilões do cinema: o computador HAL 9000. Dentro da nave que irá executar a tal missão, o computador super potente desenvolve sentimentos humanos e começa sua tentativa de revolução ao tentar enlouquecer os tripulantes – ele cria um plano para tentar dominar a nave. Um computador que usa aquilo que os humanos tem de mais vulnerável para conseguir derrotá-los. Mesmo legitimando o comando do computador inicialmente, o chefe da missão consegue reverter o quadro. Ao final da seção somos informados sobre um monolito encontrado na Lua, que emitiu um forte sinal de rádio diretamene para o planeta Júpiter.

A última seção do filme se chama Júpiter e Além do Infinito. Nela o chefe da missão Júpiter, o Dr. David Bowman, deixa a nave Discovery One e segue até um novo monolito preto que o lança em um túnel do tempo.

A história do filme não é, portanto, algo que tenha uma explicação palpável. Mais do que explicar, 2001 – Uma Odisseia no Espaço nos faz pensar. Indagar o porquê das coisas. É interessante a forma como o filme mostra sem dizer. A conexão entre a descoberta de uma arma, quando ainda éramos macacos e a conquista do espaço apresenta, sem meias palavras, o valor do poderio bélico. O monolito preto, elo que liga cada seção do filme, talvez possa ser entendido como o símbolo da fé e do conhecimento. Após entrar em contato com ele o homem avança no tempo e no espaço. Isso porque todos os pontos de desenvolvimento mostrados no filme ocorrem após o contato do homem com o monolito. Nesse ponto, Stanley Kubrick consegue apontar sem polemizar. O monolito pode tanto significar a fé do homem em Deus ou a fé do homem na ciência. Aliás sobre o tema fé um outro filme toca muito bem nessa relação: Contato, com Jodie Foster.

A leitura de um filme como esse muda a cada exibição. As questões centrais, porém, permanecem as mesmas: busca por respostas, evolução, conquista de espaços e supremacia. Ao invés de nos dar respostas, esta obra-prima aponta mais perguntas.   





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Renata Jamús
É uma apaixonada por cinema. Foi mestre em "discursos do Oscar" na infância. Teve três ou quatro muito bons, que eram constantemente lidos para os pais babões de plantão. Os mitos hollywodianos eram como amigos da rua. Habitavam sua casa, desde sempre. | COLEÇÃO DE FILMES | FACEBOOK | TWITTER