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| filme 32 | RATATOUILLE
Podemos ser o que quisermos!
- Primeiro, nós não somos ladrões. Segundo, afasta-te da cozinha e dos humanos, é muito perigoso.
- Eu sei que devo odiar os humanos, mas há algo neles...Não se limitam a sobreviver. Descobrem, criam. Olhem para o que fazem com a comida.
Os filmes da Pixar possuem uma peculiaridade que já até comentei aqui: toda a história gira em torno de duplas. Wall.E e EVA, Woody e Buzz, Marlim e Dory, Carl e Russell, todos eles são duplas inesquecíves do mundo cinematográfico. Em Ratatouille somos apresentados a mais uma dupla de ouro: Remy e Linguini.
E por mais inverossímel que possa parecer a história de amizade, descobertas e aceitação que envolve um rato e humanos, nós de fato acreditamos ser possível, em algum canto do Planeta, existir um ratinho cozinheiro.
Remy é um rato. De verdade. Acontece que ele não se vê como rato. Até andar sobre duas patas ele anda, tudo para não sujar o outro par que usa para manusear a comida. A colônia de ratos não entende muito esse seu comportamento fora dos padrões. Remy é considerado louco e esquisito. Nada muito diferente daquilo que fazemos com aqueles que não se enquadram em nossos “perfeitos” modelos de comportamento, não é mesmo? Linguini é um humano atabalhoado. Inseguro e medroso. Temos a impressão que ele não faz questão nenhuma de ser notado. Até que surge um Remy em sua vida.
Mais uma dupla inesquecível: Remy e Linguini! |
O sonho de Remy é ser chefe de cozinha, Linguini é muito medroso até para sonhar. Através das mãos e do corpo do atabalhoado amigo, o ratinho consegue se tornar aquilo que sempre sonhou. A sequência em que a dupla começa a aprender o jeito certo de cozinhar é ótima, risadas garantidas. Remy também exerce influência na vida do desastrado Linguini, através dele o rapaz toma coragem e enfrenta medos, além, é claro, de conhecer o amor.
- Por que você está aí chateado?
- Bem, acabei de perder minha família. Todos os meus amigos. Provavelmente para sempre.
- Como você sabe?
- Bem, eu... Você é uma ilustração. Por que estou falando com você?
- Você perdeu sua família. Todos os seus amigos. Se sente solitário.
- Sim... bem, você está morto.
- Mas isso não é páreo para os desejos. Se você se focar no que deixou para trás, nunca vai conseguir ver o que está à frente. Agora suba! E dê uma olhada.
Remy precisa de uma boa dose de coragem para assumir tudo aquilo que quer da vida. Ser marginalizado e mesmo assim só conseguir enxergar a felicidade na realização de um sonho não é fácil. Ou ele perece ou vive seu sonho.
Essas mensagens que a Pixar consegue passar em seus filmes é sensacional. Faz com que todas as produções, sem exceção, sirvam para seres humanos de todas as idades. Os filmes não são datados e os temas são universais, seja aqui ou lá na Índia, todo mundo entende os recados e, de certa forma, ganha uma pequena inspiração para vida.
“O mundo costuma ser hostil aos novos talentos. Às novas criações. O novo precisa de amigos. Ontem à noite experimentei algo novo. Um prato extraordinário e de uma fonte inesperadamente singular. Dizer que tanto o prato quanto quem o fez desafiam minha pré-concepção sobre gastronomia é extremamente superficial. Eles conseguiram abalar minha estrutura. No passado, eu não fazia segredo quanto ao meu desdém pelo famoso lema do Chef Gasteau: Qualquer um pode cozinhar" Mas eu percebo que só agora compreendo de verdade, o que ele quis dizer. Nem todos podem se tornar grandes artistas. Mas um grande artista pode vir de qualquer lugar.”
Uma das coisas, porém, que mais me impressiona nas produções com a assinatura Pixar é a facilidade inacreditável para conseguirem um grand finale. Em Ratatouille o ápice chega com um monólogo do crítico gastronômico Anton Ego. A fala de um personagem da ficção se torna, de repente, um tratado sobre perder os preconceitos e assumir novas opiniões. Um texto em defesa da novidade. A Pixar pede que a gente trate a novidade como tratamos seus desenhos um dia. Demos chance para tantos filmes, novos filmes, com uma linguagem que fugia aos padrões das animações que até então existiam. O resultado foi maravilhoso. E Remy nos ensina uma regrinha simples da felicidade: seja o que for da nossa vida, só vai valer mesmo a pena se tivermos coragem para sermos quem devemos ser.